Mulheres negras lideram mudanças e provam o impacto da representatividade no mercado de trabalho.
Sentir-se pertencente ao espaço de trabalho é fundamental para qualquer profissional. Mas, para mulheres negras, esse pertencimento pode ser desafiador devido à falta de representatividade. As histórias de Karla e Jackeline, colaboradoras da Eccaplan, exemplificam como o empoderamento e o protagonismo feminino negro podem transformar vidas e estruturas.
Karla: da reciclagem à gestão operacional
Karla, mulher negra e LGBT, nasceu no Mato Grosso e enfrentou desafios desde cedo. Após a perda de sua mãe, em 2008, precisou se reinventar e, em 2011, mudou-se para Guarulhos com sua esposa. Iniciou sua trajetória profissional na área de reciclagem, trabalhando em uma cooperativa. Lá, descobriu sua habilidade de liderar, gerenciando um grupo de 60 mulheres.
Ao longo dos anos, Karla dirigiu caminhões, foi contratada como motorista e, com dedicação, tornou-se coordenadora de operações e projetos. Sua jornada na Eccaplan começou ao criar a área de resíduos da empresa, onde atualmente atua como Gestora Operacional.
Apesar de não ter formação acadêmica formal na época, Karla superou as estatísticas e hoje cursa Gestão Ambiental. “A Eccaplan me proporcionou uma vida melhor. Agora, meus filhos e netos podem ter oportunidades que eu não tive”, destaca emocionada.
Jackeline: superação e pioneirismo acadêmico
Nordestina de Recife, Jackeline enfrentou dificuldades ao chegar a São Paulo há 10 anos. Primeira da família a cursar faculdade, trabalhou em jornadas duplas para sustentar seus estudos e concluiu a graduação em Biologia, seguida por um mestrado na USP em Ambiente, Saúde e Sustentabilidade.
Mesmo com um currículo robusto, enfrentou desafios típicos do racismo estrutural, como a necessidade de ser “melhor que todos” para ser vista. Na Eccaplan, encontrou um espaço que reconheceu seu potencial e ofereceu suporte, como o custeio parcial de um curso de inglês. Hoje, ela é Gerente de Sucesso do Cliente e Consultora de Resíduos, uma referência em liderança e resiliência.
“É essencial que empresas compreendam as vivências e interseccionalidades das pessoas. Não é só inclusão simbólica, mas criar condições reais para que todos possam florescer”, afirma Jackeline.
Transformação estrutural: o papel da representatividade
As trajetórias de Karla e Jackeline mostram que o empoderamento feminino negro vai além da superação individual. É sobre reformular estruturas corporativas, criar políticas inclusivas e oferecer suporte para talentos de grupos minorizados.
Ver mulheres negras em cargos de liderança inspira outras a persistirem em seus sonhos. Karla reforça: “Hoje, quero ser referência para outras mulheres negras, mostrando que é possível vencer sem abrir mão de quem somos”.
Um futuro mais inclusivo começa agora
Para transformar o mercado de trabalho em um ambiente de pertencimento e autoestima, é necessário ir além do reconhecimento simbólico. Políticas de contratação, redes de apoio e treinamentos são fundamentais para construir empresas mais diversas, fortes e inovadoras.
As histórias de Karla e Jackeline nos lembram que representatividade importa. Empoderar mulheres negras é um passo essencial para criar um futuro mais justo, onde ninguém precise ser “dez vezes melhor” para ser vista.
Fonte: Por Tamara Braga, engenheira química, professora e especialista em sustentabilidade, diversidade e inclusão.