Alguns anos para trás andei pela trilha estreita, adentrando pelo meio do Cinturão Verde, que acompanha a avenida Minas Gerais. Ainda sequer era chamada de Trilha das Perobas, quando entrava por aí, com meu irmão para colher jabuticabas selvagens. Este caminho verde passou dezenas de anos sem chamar a atenção de ninguém… Houve um tempo que servia de refúgio para consumidores de drogas, no escuro, que se escondiam por entre as árvores inúmeras que existem por lá. Hoje a Trilha das Perobas é um refúgio turístico, mais alargada, com pequenas mudas de palmitos plantadas ao longo da trilha, de um verde deslumbrante. Aberta às visitas, em dias e horários pré-determinados, nesta semana encontrei muitas famílias com suas crianças curiosas, alguns estudantes, outros acadêmicos olhando admirados, as árvores ao redor. Fiz o mesmo caminho que fiz há alguns atrás e constatei como ainda ela é bem preservada, bem cuidada e como o poder público tem contornado o grave problema de erosão.
É surpreendente olhar para cima e ver a copa das perobas beirando os 30 metros de altura e que um abraço de cinco de pessoas de mãos dadas quase não consegue contornar seus troncos poderosos. Estas perobas gigantes conservadas ao longo do tempo, graças aos cuidados dos prefeitos ambientalistas que passaram por seus mandatos em nossa cidade, pairam, altaneiras, acima da mata nativa e contemplam a paisagem do berço em que nasceram… Uma peroba bem climatizada, em sua mata virgem, pode alcançar seiscentos anos de idade. Isto significa que elas já existiam quando o Brasil foi descoberto por Cabral. Imaginem, então, há quanto tempo já não estavam pela nossa região, quando Cianorte foi fundada, há apenas 66 anos atrás. Imagino também quantas destas árvores centenárias foram derrubadas a machado, para se tornarem dormentes de estrada, tábuas que serviram às casas de madeira, lascas que se tornaram carvão, cascas que serviram de remédio e cuja seiva também servia para ser fabricado o conhecido ‘óleo de peroba’ que serve para hidratar móveis de madeira.
Qual era o propósito de então? Conservar as perobas ou servir ao progresso, à entrada de migrantes de todos os cantos do Brasil, principalmente, do sul do Paraná? Conter o avanço do homem sobre a floresta, nesta época era um caso irracional… O homem entrava mata dentro, construía sua casinha, derrubava a mata ao redor, alimentava-se de palmitos e de animais silvestres, plantava sua horta, fazia covas para as mudas de café, espalhava pela terra virgem as sementes do arroz, feijão e algodão, cheio de esperança… Ou era a floresta ou era o homem… Não havia alternativa para quem veio para esta terra virgem cheio de sonhos e imaginava que aqui enfiaria também suas raízes na terra branca. Não tinha escolha para o homem pioneiro; era derrubar, derrubar e derrubar, para lá, depois, ao longo dos anos pudesse admirar a sua roça de milho produzindo.
Seis séculos se passaram e elas ficaram por aí… E menos de um século se passou para que o homem tomasse consciência de que seria necessário e urgente conservar o verde que o tempo do progresso derrotou. Benditas perobas que resistiram ao tempo e me permitiram andar sob as sombras das perobas da minha terra e hoje é a árvore símbolo de Cianorte!
Izaura Varella – Em 30 de junho de 2.019