Iniciativa da Sociedade Brasileira de Infectologia destaca prevenção, diagnóstico precoce e combate ao estigma
A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) lançou, nesta terça-feira (26), a campanha digital “HIV/Aids – Lembrar para Jamais Esquecer”, com foco na conscientização da população jovem sobre o HIV. A iniciativa inclui vídeos, postagens em redes sociais e uma minissérie documental, que estreia no dia 1º de dezembro, Dia Mundial de Combate à Aids, no canal do YouTube da entidade.
O objetivo é reforçar informações sobre a transmissão do vírus, a evolução da doença e os desafios enfrentados, como desigualdades sociais e o estigma associado ao HIV. Em 2022, quase um quarto dos novos casos de HIV (23,4%) foi registrado entre jovens de 15 a 24 anos, tornando esse público o principal alvo da campanha.
Diagnóstico e o impacto das desigualdades sociais
De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids de 2023, divulgado pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou 1.124.063 casos de Aids entre 1980 e junho de 2023. Apenas entre 2007 e 2023, foram notificadas quase 490 mil infecções. Em média, 35,9 mil novos casos são identificados por ano.
A desigualdade social é um fator determinante, segundo Alexandre Naime Barbosa, coordenador científico da SBI. Em 2022, 65% dos novos casos foram em pessoas negras (pretos e pardos), que têm menos acesso às estratégias de prevenção, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP).
“Assim como tuberculose e hanseníase, o HIV/Aids no Brasil é uma doença marcada por determinantes sociais. Muitos não têm acesso ao teste precoce ou à PrEP, que é fundamental para prevenir novas infecções,” alerta Barbosa.
A PrEP, disponível no SUS desde 2018, consiste em medicamentos que protegem contra o HIV antes de relações sexuais. No entanto, o método é usado predominantemente por homens brancos e de alta escolaridade. Em 2023, cerca de 73 mil pessoas utilizavam a PrEP no Brasil, com São Paulo concentrando quase 26 mil usuários.
Foco em jovens e mulheres maduras
Além dos jovens, a campanha também alerta para o aumento de casos em mulheres com mais de 50 anos. Em 2022, esse grupo representou 20,3% dos diagnósticos, praticamente o dobro da proporção registrada em 2012 (11,4%).
Para atingir o público jovem, a campanha contará com a participação de influencers digitais, que ajudarão a disseminar informações em linguagem acessível e próxima da realidade desse público. Durante a coletiva de lançamento, o influenciador Lucas Raniel destacou a importância de humanizar o discurso sobre o HIV/Aids:
“Devemos evitar termos como ‘luta contra o HIV’, que estigmatizam ainda mais quem vive com o vírus.”
Vacina ainda é um desafio
A busca por uma vacina contra o HIV ainda enfrenta grandes obstáculos. O Estudo Mosaico, realizado em oito países e envolvendo 3,9 mil participantes, foi interrompido devido à falta de eficácia. Segundo o coordenador do Comitê Científico de HIV/Aids e ISTs da SBI, José Valdez Madruga, o resultado foi um “banho de água fria”, mas a pesquisa continua sendo uma prioridade global.
Uma nova abordagem na comunicação
A campanha da SBI busca ir além das campanhas tradicionais, com a proposta de criar mensagens mais claras e acessíveis. A combinação de minisséries, debates com influenciadores e estratégias digitais visa alcançar um público mais amplo, principalmente os jovens, que estão entre os mais vulneráveis à infecção.
A estreia do primeiro episódio da minissérie no dia 1º de dezembro será uma oportunidade para discutir os avanços e desafios das últimas quatro décadas no enfrentamento ao HIV no Brasil, destacando histórias de resiliência e transformação.
Fontes: Agência Brasil, Boletim Epidemiológico HIV/Aids, SBI