A necessidade de estar mais perto dos filhos fez Juliana Barbosa dos Santos, de 39 anos, deixar o mercado formal de trabalho e desenvolver a sua própria empresa. Há quatro anos, ela deu uma nova cara para o dindin – conhecido também como geladinho ou sacolé, e hoje vende o produto em feiras, clubes, festas infantis e até casamentos.
“A minha mãe já fazia há muito tempo para ajudar nas despesas da casa, com o tempo eu fui desenvolvendo a ideia e inovando um pouco mais. Temos vários sabores, de frutas, chocolates e até alcoólicos para festas de adultos”, contou. A nasceu quando seu filho mais novo tinha um ano. “Nasceu dessa necessidade de estar perto deles, que, às vezes, trabalhando fora eu não conseguia. E está dando certo”, disse ela, que é mãe de três filhos.
Juliana participou no último domingo (4) de uma feira de mulheres empreendedoras, em Brasília, promovida pela , primeira startup (pequena empresa focada em tecnologia para novos modelos de negócios) de impacto social voltada ao empreendedorismo materno no Brasil. Cerca de 20 mulheres apresentaram seus produtos e serviços durante o evento, que aconteceu no Espaço Renato Russo.
Esta foi a terceira edição da feira, que já passou por Recife (PE) e São Paulo (SP), com workshops e palestras gratuitas para as mães empreendedoras. “Precisamos mostrar para a sociedade que mulheres mães estão à frente dos mais diversos tipos de negócios e que quando você direciona sua compra para uma mãe empreendedora, você está fomentando uma economia extremamente colaborativa”, explicou Vivian Abukater, sócia da Maternativa.
Segundo ela, mulheres mães que têm dinheiro e independência financeira investem na educação dos filhos, no cuidado e bem-estar da família. “A ideia é promover em Brasília esse pensamento, de fortalecer essa economia e ajudar as mulheres mães a encontrar independência financeira”, explicou.
A dificuldade que teve durante a amamentação do filho, fez a enfermeira Juliana Gomes, de 28 anos, desenvolver sua própria consultoria em amamentação, a . Formada há quatro anos, ela ainda busca um trabalho no mercado formal, mas espera agregar renda com o novo negócio. “Na primeira semana de nascimento do meu filho tive problemas e uma pessoa me auxiliou e me abriu esse olhar para a consultoria de amamentação, que eu nem sabia que existia. Fiz o curso e me especializei”, disse, contando que o trabalho flexível também pode ser conciliado com a maternidade.
Negócios com alimentos orgânicos, como a , artesanato, como da , vestuário, cosméticos, gastronomia e espaço para crianças fizeram parte da edição da feira da Maternavita deste domingo.
Há um ano e meio, a funcionária pública Moara Giasson, de 40 anos, teve seu primeiro filho e, com o esposo, desenvolveu a . O casal usa óleos e extratos do Cerrado e compra a matéria-prima de extrativistas e agricultores familiares, buscando valorizar essa cadeia com produtos de qualidade a preços acessíveis.
O novo negócio também foi um refúgio para Moara durante a licença maternidade. “No início a criança demanda 100% do seu tempo, mas ter essa outra responsabilidade era um momento de estar pensando em mim, apesar de ser a empresa, de sair desse ciclo de ser só a provedora [do filho]. Às vezes, eu fazia mídia social na madrugada, enquanto estava amamentando”, contou.
EMPREENDEDORISMO
Em entrevista à Agência Brasil, a sócia da Maternativa, Vivan Abukater, citou pesquisa da Fundação Getúlio Vargas que mostra que 48% das mulheres deixa o mercado de trabalho antes do filho completar um ano de idade. Por outro lado, pesquisa da Rede Mulher Empreendedora aponta que 75% das mulheres que empreendem fazem isso depois que os filhos chegam.
De acordo com Vivian, esse é um empreendedorismo de necessidade, não de oportunidade, e por isso nem sempre elas têm o conhecimento necessário para gerir o novo negócio. “Dentro da rede Maternativa, elas desenvolvem com outras mães todas aquelas coisas que estão faltando”, explicou.
A rede nasceu em 2015, quando duas amigas começaram a enfrentar dificuldade, já durante a gestação, em relação ao mercado de trabalho. Elas, então, organizaram um grupo na Facebook para trocar experiências sobre o assunto. Em um mês reuniram 600 mulheres. Hoje são 24 mil. “Naquele momento ficou muito claro que existe uma penalidade materna quando a gente olha para o mercado de trabalho e que não era questão privada delas, era uma questão pública e sistêmica”, explicou Vivian.
No grupo, as mulheres trocam informações sobre empreendedorismo materno e como é possível se manter ativa no mercado de trabalho conciliando maternidade e carreira. “Quando uma mulher se torna mãe, ela leva essa potência da maternidade para todas as áreas da vida dela, inclusive para o trabalho”, disse Vivian, que é mãe e ex-executiva de uma grande empresa.
No início deste ano, a Maternativa ganhou um prêmio do Facebook como uma das 100 comunidades com maior impacto social do mundo. “Apesar de não sermos um grupo muito grande, enquanto a médias de outros grupos é de 8% a 10% de engajamento, o nosso tem 80% de engajamento, então essa é a riqueza, é uma troca, quem faz a Maternativa existir são as mulheres mães”, ressaltou Vivian.
HABILIDADES MATERNAS
Além de promover a troca de conhecimento e experiência entre as mães no ambiente virtual e presencial, com feiras e palestras, o modelo de negócio da Maternativa busca engajar a iniciativa privada no processo de transformação do mercado de trabalho para as mulheres e na redução da penalidade materna. As organizadoras da rede prestam consultoria, palestra e desenvolvem conteúdo para marcas e empresas.
De acordo com Vivan, cada vez mais estão surgindo comitês de igualdade e gênero dentro das empresas, onde o mercado começa a discutir a questão da penalidade materna, da barreira que as mães têm para crescer profissionalmente e ocupar cargos de liderança. A sócia da Maternativa destaca, entretanto, que, quando se torna mãe, a mulher fortalece várias habilidades.
“A mulher se torna altamente focada, ela vira detector de bobagem, tudo que não é importante ela tira da frente e foca no que é importante”, explicou. A capacidade de liderar e trabalhar em equipe, a autonomia, proatividade e empatia com as equipes são outras habilidades que as mães levam para o seu ambiente de trabalho.
Fonte: Andreia Verdélio – Agência Brasil