(James Hollis)
À frente destes míseros homens e mulheres que cumprem pena, atolados no pantanal da raiva, misto de arrependimento, misto de vingança, transborda no rosto de cada um deles, mágoas do fundo da alma. Expressões trincadas de desesperanças, vendo-se na obrigação de ter que cumprir o que lhe foi determinado pelo Juízo. Muitos veem com desprezo o cumprimento da pena, outros a olham com esperança de redenção, outros não veem o momento de tudo acabar e não mais ter que responder à Justiça, outros, sequer pensam em nada e cumprem o ciclo da droga, dos delitos, recomeçando tudo de novo, sem redenção nenhuma, voltando para trás.
Até que ponto vale a pena envolver-se com a alma destes homens? Expor-se diante deles, tentar abrir a porta fechada do emprego, tentar abrir a porta fechada da família, tentar abrir a porta trancada da vida? Que família? Aquela que permitiu que caminhasse pelos rumos mais ignóbeis da vida? Aquela família que aos trancos e barrancos foi vivendo dramas existenciais diante dos filhos, tornando pública toda maldade interna de um homem sem esperança? Aquela família que não o abraçou e não o amou o suficiente para tornar-se também um homem que ama os semelhantes? Aquela família que foi o espelho de suas tragédias pessoais? Na família, muitos buscam o próprio retrato da sua dor. De dentro do recôndito da família chegam os melhores e os piores exemplos. O que deseja um pai de família de seu filho, que seja trabalhador, honesto, íntegro, se dentro da própria família viu o seu pai matar, roubar, furtar e assaltar? O exemplo é poderoso remédio contra a maldade do mundo. Quem não tem exemplos bons como vai se ver no espelho da vida? Aí reclamamos que há tantos bandidos, tantos marginais roubando nossos carros, nossas casas, nossos celulares, armados, ameaças de morte… E o que fazemos socialmente, para combater o nascimento de novos homens marginais?
Por mais que nos dedicamos com nossas ONGS ao difícil trabalho de recuperação do homem perdido, o resultado é pequeno, e por menor que seja o resultado, sempre acalma nossa alma, afinal, foi apenas um, mas já valeu a pena! Dispor o coração e o seu trabalho na difícil tarefa de recuperação do homem é um exemplo de solidariedade e poucos se dispõem a isto, a maioria se poupa de aborrecimentos e comprometimentos com o outro. Estar diante de homens e mulheres que cumprem penas é dar-se conta que cada um responde pela sua escolha pessoal de seu próprio destino. Como dizia James Hollis: “eu não sou o que me aconteceu; eu sou o que escolhi ser.”.
Ademais, é necessário distinguir o que nos aconteceu no passado e que nos tornou o que somos hoje, e vislumbrar o que é possível fazer quando faço minhas escolhas pessoais. Somos o agente de nossas tristezas e por nossas escolhas somos o agente de nosso destino.
Izaura Varella
Em 18 de agosto de 2.019