IBGE lança mapa-múndi invertido com Brasil no centro e Sul no topo

Nova cartografia desafia visão tradicional e reforça protagonismo do Brasil no Sul Global

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou nesta semana um novo mapa-múndi oficial com uma proposta ousada: o Brasil aparece no centro da imagem e o Sul é representado no topo, desafiando convenções cartográficas estabelecidas há séculos. A mudança visual ocorre em um momento de protagonismo geopolítico do país, que neste ano lidera o Brics, o Mercosul e sediará a COP30, em Belém.

A iniciativa busca estimular o debate sobre como a cartografia influencia a percepção de poder e relevância no mundo. Segundo a diretora de Geociências do IBGE, Maria do Carmo Dias Bueno, posicionar o Sul no alto do mapa não é um erro técnico, mas uma decisão intencional que questiona o viés histórico que valoriza o Norte como “superior”.

“Mapas são convenções. Associar o Norte à riqueza e o Sul à pobreza tem implicações simbólicas e políticas. Nosso mapa propõe uma nova forma de olhar o mundo”, afirmou a diretora.

Brasil no centro do mundo e da política internacional

O novo mapa destaca o Brasil como centro das atenções globais, evidenciando sua inserção nas principais agendas internacionais. Além de indicar os países do Brics, do Mercosul, da CPLP e da região amazônica, o mapa também dá destaque a cidades brasileiras que sediam eventos de escala global, como o Rio de Janeiro (capital do Brics), Belém (sede da COP30) e Fortaleza (sede do Triplo Fórum do Sul Global).

Para o geógrafo Luis Henrique Leandro Ribeiro, da Uerj, essa cartografia rompe com a visão eurocêntrica e oferece uma leitura mais condizente com a realidade atual. Ele afirma que o IBGE, ao adotar uma perspectiva invertida, contribui para a construção de uma nova geopolítica da representação visual.

“O mapa gerou reflexões ao descentralizar o olhar tradicional. Como dizia Milton Santos, cada lugar é o mundo à sua maneira”, destacou Ribeiro.

Cartografia como ferramenta política e cultural

A mudança de perspectiva proposta pelo IBGE remete à obra “América Invertida”, criada em 1943 pelo artista uruguaio Joaquín Torres García. Para o professor da UnB Rafael Sânzio, que publicou mapa semelhante em 2007, o movimento atual oficializa uma visão já debatida por pesquisadores há décadas.

“É uma forma de valorizar nossa identidade. A cartografia também serve para elevar a autoestima nacional”, observou Sânzio.

O mapa usa a projeção cartográfica de Eckert III, considerada mais equilibrada e ideal para representações temáticas. Segundo os geógrafos João Pedro Pereira de Lima e Carolina Russo Simon, membros da Associação de Geógrafos Brasileiros, esse tipo de representação oferece menos distorções e simboliza o Brasil como líder de um novo paradigma geopolítico.

Representações que desafiam o senso comum

Pesquisadores alertam, no entanto, que mudanças como essa enfrentam resistência por desafiar visões consolidadas, especialmente entre lideranças e instituições acostumadas à representação tradicional com o Norte no topo. Para eles, mapas não são neutros: são produtos culturais e políticos que ajudam a moldar narrativas de poder.

“Mapas são ferramentas dotadas de poder. Representar o Brasil no centro é mais do que localização: é posicionamento político”, afirmam os pesquisadores.

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Fonte: Agência Brasil – Publicado originalmente em 10/05/2025.