POR ONDE ANDA A MENINA DO SORVETE?

Tem alguns meses, alguns anos, algumas décadas e um
milhão de horas passadas, uma menina atravessava a Praça 26 de Julho,
no centro de nossa amada Cianorte. Mal tinha completado seus 14 anos
de vida, inocente como um bebê, sem malícia, vivendo o dia com
intensidade tamanha, quase impossível de seu coração suportar. E sem
pecados. O seu único pecado havia sido apagado pelo batismo, pela
primeira comunhão, pelo catecismo… A vida para ela era um campo
enorme que se estendia pela frente de seus olhos e mal conseguia ser
capaz de ver o fim do túnel. A idade ingênua e pura lhe proporciona
sonhos, vôos para o futuro, sem limites…

Um domingo à tarde, atravessava a praça cheia de areia,
onde havia plantada uma enorme figueira que arrastava seus galhos pelo
chão. As sibipirunas cresciam valentes para o alto, um banco apenas havia
embaixo de uma árvore… Uma paisagem simples tão somente. Ao dar o
primeiro passo saindo da praça em direção à igreja, vai parando um carro
pequeno, um fusca, carrão da época, onde haviam vários rapazes. O
garoto que conduzia o fusca olhou e pediu à doce menina: “dá-me uma
lambida do sorvete”! Assustada, recuou, titubeou, mas acabou
oferecendo o sorvete ao motorista. Ele, rindo foi embora…

Mas não foi embora para sempre…
E a menina foi se enfiando pelos dias a fora, caminhou
léguas de experiência, chorou todas as tristezas que teve, riu todos os
momentos felizes que o andar do tempo lhe deu. Um dia, a menina não
era mais aquela singela garota, mas uma mulher de sonhos, de desejos
fortes, resoluta. E o andar do tempo lhe proporcionava momentos alegres
e tristes, sucessos e fracassos, realizações e ainda muitos sonhos que
ainda estavam por vir. Foi à luta despojada de sentenças negativas e
devagar foi colhendo pomos sazonados; já havia provado os frutos
amargos, ácidos, navegado por águas turbulentas e sofrido pela
impaciência da vida. E na busca do destino ela descobriu a si mesma! Nas
mãos do destino, ela reencontrou o jovem da Praça 26 de Julho que lhe
pediu o sorvete… Maduro, decidido e cheio de encanto, ele abraçou a
menina e nunca mais a deixou sozinha!

Izaura Varella – 14/03/2.025