Debate ganha força após morte de Maguila; novas medidas incluem prevenção em escolinhas e substituições em competições
A morte do ex-pugilista José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, aos 66 anos, há um mês, reacendeu as discussões sobre a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC). Essa condição degenerativa, causada por impactos repetidos na cabeça, é um problema enfrentado por diversos atletas, especialmente em esportes de contato. Com o avanço das pesquisas e conscientização, modalidades e federações esportivas têm adotado protocolos para minimizar os riscos de concussões e proteger a saúde dos atletas.
Prevenção começa na base e em treinos
Nos Estados Unidos, por exemplo, crianças em escolinhas de futebol são orientadas a evitar cabeceios até uma idade específica. Segundo Maria Elisabeth Ferraz, neurologista da Academia Brasileira de Neurologia, medidas preventivas como essa são essenciais.
“Não há necessidade de expor crianças ou jovens a cabeceios ou golpes na cabeça durante os treinos. A informação é crucial para que os atletas, mesmo amadores, entendam os riscos e tomem decisões conscientes sobre suas práticas esportivas”, destacou Ferraz.
Protocolos de concussão no alto rendimento
No Brasil, entidades como o Comitê Olímpico do Brasil (COB) e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) seguem protocolos rigorosos para lidar com casos de concussão. O COB utiliza o SCAT, ferramenta reconhecida internacionalmente, que avalia reflexos, memória e coordenação motora dos atletas, além de acompanhar a recuperação com reavaliações constantes.
No futebol, um novo protocolo permite substituições extras em casos de trauma cerebral durante as Séries A e B do Campeonato Brasileiro masculino. A medida foi criada para garantir que jogadores com sintomas de concussão sejam imediatamente afastados do jogo.
No rugby, um dos esportes com maior risco de impacto craniano, a Confederação Brasileira (CBRu) trabalha junto à liga de futebol americano NFL e à World Rugby em medidas como o “reconhecer e remover”, que afasta imediatamente atletas suspeitos de concussão.
Avanços no esporte adaptado
Esportes adaptados, como o futebol de cegos, também têm adotado protocolos específicos. Segundo Hesojy Gley, médico do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), a avaliação é feita de forma personalizada devido às características dos atletas. Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, por exemplo, foi implementada uma substituição por concussão, obrigando o afastamento temporário do jogador para avaliação médica.
Impactos a longo prazo e conscientização
A conscientização sobre os danos a longo prazo de traumas repetidos na cabeça, como a ETC, tem avançado com estudos e debates em eventos médicos e esportivos. Segundo Lúcia Deibler, diretora médica da Confederação Brasileira de Rugby, iniciativas internacionais buscam reduzir o risco com alterações nas regras e avaliações mais detalhadas.
Para Maria Elisabeth Ferraz, o esporte no Brasil ainda está em processo de adoção mais rigorosa desses protocolos, mas os avanços são notáveis: “Hoje, nos Estados Unidos, protocolos são muito mais rígidos. O atleta é afastado, avaliado e só retorna quando está completamente apto, o que inclui exames de imagem e testes neuropsicológicos.”
Fonte: Agência Brasil