UMA LEMBRANÇA PITORESCA DO TERCEIRO PREFEITO DE CIANORTE DR. RAMON MÁXIMO SCHULZ

Escrevemos um livro sobre a história de Cianorte que foi publicado em 1.995, juntamente, com mais três professoras, pelo empenho do então prefeito municipal Dr. Jorge Moreira da Silva. Fizemos intensa e trabalhosa pesquisa, através de depoimentos pessoais que eram gravados e depois transcritos. Todo este material ficou aos cuidados da Prefeitura Municipal que já se perdeu, infelizmente.

Hoje, revendo meus escritos encontrei uma entrevista feita com o  Prefeito Municipal Dr. Ramon Máximo Schulz, (25/12/1.963  a 31/01/1.969), um dos primeiros médicos da cidade, pioneiro e que construiu o primeiro hospital de Cianorte, onde hoje se localiza  a Santa Casa. Dr. Ramon não foi prefeito por ser político; ele foi prefeito por ser muito conhecido, que chegou em Cianorte logo depois da fundação da cidade, e em 1.954 começou a construção do hospital, era bastante popular junto à reduzida população, mas que crescia dia a dia. Os moradores eram atraídos pelas possibilidades de plantio de café e cereais e a região tinha a promessa de crescer muito.

Dr. Ramon, o Dr. Ovídio Luiz Franzoni e o Dr. Douglas Gervásio, também médicos, iam em busca de doentes onde fossem chamados, nas glebas recém-derrubadas no meio da mata, em estradinhas de terra, em Vidigal, em São Lourenço, enfim, atendiam doentes, partos, juntamente, com a enfermeira e parteira Juvir Correia de Castilho. A Juvir trabalhava também no Hospital São Lucas, uma construção humilde de madeira, mas, fundamental para a saúde da população. Em razão de seu trabalho de sua popularidade foi indicado para concorrer pelo cargo de prefeito municipal no ano de 1.963, pela UDN, que coligado com o PDC conseguiu 2.948 votos válidos, enquanto o seu concorrente Hélio Manfrinato do PTB fez 1.964 votos. Elegeu-se prefeito, portanto.

Porém, não era fácil fazer campanha, numa cidade enfiada na selva, cuja dimensão geográfica ia até Japurá. Dr. Ramon cercou-se de pessoas que zelavam pela sua integridade, sempre cercado de seus correligeonários. Tudo poderia acontecer… Quando aconteceu o comício de encerramento de sua campanha para prefeito, Dr. Ramon se queixou que tinha um sujeito seguindo-o, como se fosse sua sombra. Chamou o Cabo Geraldo, conhecido como Cabo Geraldão e contou para ele que tinha um sujeito o seguindo e gostaria que Geraldão resolvesse isto, porque como uma sombra ele ia atrás dele, colado nele, onde ele fosse. Aí o Geraldão falou para o Dr. Ramon ficar sossegado que ele era tão somente o seu guarda-costas. Dr. Ramon retrucou impaciente que não havia contratado nenhum guarda-costas… E o Geraldão, fiel acompanhante político respondeu que ele havia contratado, e pediu para o Dr. Ramon olhar a espada que o guarda-costas trazia por baixo da camisa. Era um daqueles punhais de Lampião, punhal nordestino, que deveria ter uns 60 ou 70 centímetros de comprimento, e por ser grande demais e debaixo da camisa, o guarda-costas tinha que andar durinho! Esta história foi o que o Dr. Ramon me contou quando foi entrevistado e lamento hoje, não ter explorado mais a sua memória.

Mais uma de minhas histórias… Não posso morrer porque tenho a missão de guardar a história da minha cidade amada.

Izaura Varella – pioneira e contadora de histórias

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