O NENEZÃO VEGETAL, ÁRVORE SÍMBOLO DE CIANORTE:

A PEROBA

Cada peroba cai, criando o culto ao seu sacrifício e a seu destino: ser memória na boca dos adultos e ser história aos olhos dos meninos. Plantam, então, perobas em quintais e tombam casas como patrimônio, procuram no passado novos sonhos e velhas tulhas tornam-se designan. Peroba-rosa desta terra amada, multiplicando-se em ressurreição, torna-se mártir deste evangelho, de acreditar em gente e evolução, plantando o novo e recriando o velho (Domingos Pellegrini)

A árvore exuberante, bela, centenária, longilínea que pode alcançar até 60 metros de altura, conhecida como PEROBA (Aspidosperma polyneuron, da família das Apocináceas), pela maneira abundante que permeava nossas matas, no momento em que Cianorte nascia, recebeu a comenda de ÁRVORE SÍMBOLO DE CIANORTE pela Lei 1024/87 de 30 de junho de 1.987, assinada pelo então Prefeito Municipal Jorge Moreira da Silva. A mesma lei autorizava a distribuir mudas para a população plantar. Em 1.990, pela Lei 1.278 a peroba volta a ser declarada como árvore símbolo de nossa cidade, pelo então Prefeito Municipal Edno Guimarães.

As perobas altaneiras que apontavam para o alto seus galhos soberanos era abundante em nossas matas, e foi chamada por Domingos Pelegrini de “nenezão vegetal”, porque embora alta e forte sempre foi totalmente dependente do ambiente em que vive, sempre rodeada de espessa vegetação nativa, sem a presença do homem. Até que o homem surgiu e abusou da reserva natural e o rebio foi ficando pobre destas árvores gigantes. Afinal, elas eram gigantes, mas dependentes do clima da floresta; sozinhas num recanto, não prosperavam. A rainha da floresta criada para viver centenas de anos seguidos, sem a floresta que a protege da umidade, do sol, só consegue sobreviver se não estiver sozinha. Ela, grandiosa e indefesa diante do sol causticante, dos vendavais, morre logo se não estiver protegida. Mas grandiosa, quando cai, cai inteira, retilínea, sem galhos para se enroscar. Aí veio o homem pioneiro com sua serra e a maioria absoluta destas árvores foram sendo derrubadas uma a uma. Ora, afinal a sua madeira era apreciada pela construção civil, pela construção de estradas de ferro, carpintaria, assoalhos, caibros, escadas, rodapés, marcos de portas e janelas e preferidas das serrarias ao redor da Cianorte e também muito utilizadas para a construção de pontes.

Na primeira construção do Pontilhão da Avenida Goiás foram utilizadas e muito. E a peroba generosa, seja peroba-rosa, seja peroba-amargosa, seja peroba-paulista ia assim, caminhando para a sua extinção. Espécies maravilhosas ainda podem ser admiradas na Trilha das Perobas que corta o Cinturão Verde, junto à Avenida Minas Gerais. Quis o pioneiro que abriu o centro de Cianorte, junto à velha igrejinha amarela de madeira, deixar umas amostras nativas em pé, bem na esquina da Rua Humaitá com a Avenida Souza Naves, e, sem o seu ambiente úmido, natural foram aquelas três árvores originais da terra, definhanhando. A sensibilidade do engenheiro florestal, Eleutério Langowski, substituiu-as por pequenas mudas, hoje com mais de 30 anos, no mesmo lugar. Passe lá e olhe como elas apontam seu galhos generosas para o sol; parecem dizer somos nativas, altaneiras e representamos muito bem a história original deste lugar. Se plantou hoje uma peroba em seu quintal espere um pouco, daqui a trezentos anos poderá colher seus frutos.

Izaura Varella