“Velhas lembranças me acorrem no dia em que festejamos 67 anos de fundação de Cianorte. A homenagem se estende a todos que fizeram de Cianorte o seu berço e aqui vivem honestamente e em comunidade, um servindo ao outro, seja através de sua profissão, seja pelos próprios desejos e sonhos. Neste momento em que a pandemia apaga todas as memórias, a saudade chega forte e indica o quanto eu era feliz!”
Ledo engano de quem acha que tudo começou no dia 26 de julho de 1.953. Para se construir uma cidade requer um apurado estudo do local onde a cidade será construída de forma que se considera a fertilidade do solo, seus enrugamentos suaves, a quem se destina a cidade que se planeja. Sim, Cianorte foi uma cidade planejada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, antiga parceira de uma companhia inglesa e seus dirigentes resolveram expandir as terras que lhes pertenciam, criando cidades e planejando a divisão dos lotes agrícolas. Tanto que a partir da fundação de Londrina, na década de quarenta, foi reproduzindo o modelo de planejar a cidade, sempre tendo aos seus arredores pequenos lotes agrícolas, que pudessem produzir alimentos para a população que chegava e aqui edificava suas casas. Paralela à cidade também nasceu a zona rural. E foi na década de 40 que começaram avançar sobre nossa região, devagar, pela complexidade que exigia a desmatação pioneira.
E como era bom enfiar-se pelo meio da mata com os irmãos e colher jabuticabas nas matas tão próximas de nossa casa. Era muito bom andar descalço pela areia ou de chinelo de dedos, porque a areia branca e fina ia se infiltrando pelo sapato e era quase impossível não se sentir incomodado. Corríamos feito pássaros, em bando, e quando cansados íamos contar nossas histórias sentados todos num tronco de árvore queimada, caída no meio da Avenida Souza Naves. Colher palmitos era uma outra atividade que acompanhávamos os adultos e na descida da mata em direção à São Tomé a abundância daqueles caules macios dava-nos o luxo de poder escolher entre aquele mais grosso e aquele mais alto. Pronto! O almoço estava garantido! Não havia preocupação com o futuro, não sabíamos o que era celular, telefone, nem existiam ainda, mas escrever cartas sim sabíamos e que o correio demora de 2 a 3 meses para trazer a resposta. Mas, nada nos incomodava, sabíamos esperar, não havia inconformação diante do pouco que tínhamos, nossos pais nos dirigiam, pedíamos a benção aos pais ao acordar e ao dormir, quando o primeiro pássaro se clava e o sol se punha. E quando os primeiros clarões do sol entravam pela janela do nosso quarto o café cheiroso nos esperava, pão feito em casa pela nossa mãe, bem quentinho com manteiga “Aviação” e o leite engordurado trazido pelo leiteiro em nossa porta! Sair de noitinha, buscando o clarão da lua e chegar à casa do vizinho onde haveria uma reza do terço, não era uma obrigação, mas algo que nos encantava, víamos os amigos, dobrávamos os joelhos, diante do quadro da santinha de Fátima. De vez em vez saíamos em procissão pelo pequeno centro de Cianorte, também rezando a Salve Rainha e o terço, sem padre ainda, sob o comando do próprio povo de Deus. Depois bem espiritualizados voltávamos para casa usando o farolete de pilha para encontrar o melhor lugar para se pisar.
Éramos felizes e não sabíamos!
Izaura Varella