UM GATO PRETO NO TELHADO

Por dentro do telhado da casa alguma coisa estranha estava acontecendo, um barulho de pisadas, uns miados esquisitos, que levaram o dono da casa a entrar por dentro do alçapão para constatar o que estava acontecendo. Eis que um gato preto brilhante, com peito e bigodes brancos aparece no escuro com seus olhos verdes, parecendo lanternas, atravessando a penumbra. Ele estava faminto, assustado, e depois de muita insistência o bichano veio devagar ao encontro do seu salvador. Tomado nas mãos, ao ser colocado no chão, sumiu pelo quintal afora.

Um gato preto, diz a lenda, é sinal de azar. Porém, isto é tão somente um mito que surgiu na Grécia Antiga. Diz a lenda que a divindade Zeus, casado com Hera, engravidou uma princesa chamada Alcmena que deu à luz à Hércules. A esposa de Zeus, Hera, queria evitar o nascimento do bebê, e uma das servas de Alcmena interferiu nos planos de Hera e esta a transformou, como castigo, em um gato preto, e foi mandada para servir a Deusa da Morte.

O gato preto sempre foi visto como um felino que representava seres humanos reencarnados que voltavam ao mundo para pagar pelas maldades cometidas em vida. Se isto fosse verdade mesmo, a humanidade seria tão somente uma gataria preta sem fim… Ora, quem já não cometeu algum deslize na vida, com maldade e sem maldade? Resolveram botar no gato preto todas as pragas do mundo: é um demônio encarnado, se pular na cama de uma pessoa doente ela morre, faz parte de bruxarias, carrega almas dos mortos ao além… Até o Papa Gregório XI, no século XIII publicou um documento onde dizia que os gatos pretos eram a reencarnação do Satanás… Quando encontrados eram queimados vivos!

Mas, havia o outro lado bom dos gatos pretos: ao longo da história da humanidade já foram considerados talismãs preciosos e que se a noiva, no dia de seu casamento ganhasse um gato preto de presente, teria um casamento longo, duradouro e feliz! Houve época que os marinheiros, para combater os ratos nos porões dos navios usavam o gato preto e a sua presença garantiria o retorno de todos, vivos.

Agora, aquele gato preto, de olhos verdes, que apareceu dentro do telhado da casa foi tratado com comida, primeiramente, carinho, em seguida, assim que se aproximou, tornou-se um par constante na casa. Mas tem um grave defeito: chega quando quer, vai embora quando quer, come quando tem fome, se acomoda no sofá, justamente, no lugar do dono da casa, sem pedir licença e acha que é dono do pedaço! Completamente independente, se encosta na perna do dono, para receber as passadas de mãos em seu pelo brilhante. Mas a maior felicidade que causou ao novo dono: Mia, melancolicamente, quando sente saudade!

Izaura Varella