Conversar sobre dinheiro tem se tornado uma rotina nas famílias brasileiras. A conclusão é de uma pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em conjunto com o Banco Central. Segundo o levantamento, 85% dos entrevistados – ante 82% em 2017 – conversam em casa sobre o tema; e 60% deles o fazem com frequência.
“É muito importante manter conversas frequentes para estabelecer alguns pontos, como valor disponível para as despesas da casa, se haverá sobras para gastos extras e, acima de tudo, definir uma quantia que possa servir de reserva para imprevistos e para a realização de planos da família”, defende o chefe do Departamento de Promoção da Cidadania Financeira do BC, Luis Mansur.
De acordo com o estudo, para 79% dos entrevistados as decisões financeiras sobre os gastos familiares são tomadas em conjunto por todos os membros da residência. Já com respeito aos gastos pessoais, 91% tomam as próprias decisões sem consultar os outros membros da família.
Metade dos pesquisados conta que os ganhos de cada integrante da família são mantidos em contas separadas, com cada um administrando seu dinheiro individualmente. Outros 25% mantêm uma conta conjunta e 20% separam parte dos rendimentos para esta conta conjunta e usam livremente o restante do seu dinheiro.
Quanto aos gastos da família, 23% dividem as despesas proporcionalmente à renda dos moradores e 20% as dividem igualmente entre os moradores que têm renda. No caso de 26% dos pesquisados, não há divisão, apenas um morador arca com todas as despesas.
Ao sobrar algum valor no orçamento, 17% gastam com despesas pessoais, enquanto outros 17% poupam o que restou para cobrir as despesas do mês seguinte. Para 15% dos entrevistados, o dinheiro vai para a poupança conjunta da família. Por outro lado, 23% afirmam nunca haver sobra de recursos.
Casados
Ao mesmo tempo em que a pesquisa mostra que abordar o tema finanças já faz parte do cotidiano da maioria das famílias brasileiras, os dados também revelam que o assunto ainda é espinhoso para muita gente. Quase a metade dos casais ouvidos (46%) costuma brigar por causa de dinheiro, percentual que cai para 30% no caso de casais com mais de 50 anos de idade.
Entre os principais motivos para as desavenças entre os cônjuges estão gastar mais do que o orçamento permite (38%); possuir gastos excessivos a ponto de impedir a construção de uma reserva financeira (27%); discordar sobre os gastos da casa (25%); e atrasar o pagamento de contas (25%). Um total de 32% dos casais omitem gastos sobre roupas, calçados e acessórios, 27% não contam sobre o consumo de maquiagem e perfumes e 25%, sobre comidas e guloseimas.
Daqueles que omitem os gastos, 25% reservam parte do dinheiro para gastar como quiserem; 23% tentam conciliar seus desejos com os da família, mesmo tendo prioridades diferentes; e 22% dizem que não revelam alguns gastos para evitar brigas.
Por outro lado, 89% dos entrevistados compartilham com o cônjuge ou companheiro o quanto ganham por mês e 95% costumam abrir seus gastos pessoais ao parceiro. Ainda sobre os casados, 53% consideram ser mais cuidadosos no controle das finanças do que seus cônjuges. Já 27% acreditam que ambos sejam controlados. E para 18% o cônjuge é quem trata melhor as questões financeiras.
Entre os casais para quem o dinheiro não é motivo de briga, 84% não se desentendem por concordarem com a forma como lidam com as finanças. Outros 16% afirmam que o motivo para a harmonia é que não chegam sequer a conversar sobre o assunto.
“Independentemente de quem paga as contas, se não há diálogo, a tendência é que surjam divergências e gastos que vão extrapolar o orçamento. A conversa permanente sobre o tema é fundamental”, afirma Mansur.
Série de estudos
A pesquisa faz parte de uma série de estudos realizados recentemente pela CDNL e pelo SPC, em conjunto com o BC, sobre questões ligadas ao relacionamento das famílias brasileiras com o dinheiro.
Já foram divulgadas pesquisas sobre mudança de hábitos de consumo e pesquisa de preços e controle das receitas e despesas pessoais.
Para este último módulo, foram ouvidos 804 mulheres e homens (acima de 18 anos) de todas as classes sociais nas 27 capitais do país. O levantamento foi feito entre 17 e 27 de novembro do ano passado.
Fonte: BCB