“Minha vontade é me desembaraçar das lembranças
e estirar nas calmarias, rios intermitentes da vida.
Minha vontade é me dobrar com as crianças, brincar de amarelinha
e abusar do abraço da acolhida!
Minha vontade é rodar o relógio para a esquerda, lentamente,
para trás, de hora em hora.
Minha vontade é levantar apressada, correr, chegando atrasada,
sem justificar, como não faço agora.
Minha vontade é voltar no tempo e me amparar no abraço dos filhos
e sorver do amado, o beijo proibido.
Minha vontade é viver de novo, na algazarra barulhenta dos filhos!
Minha vontade está em conflito com o desejo de tê-los
e não mais tê-los!”
Vivemos permeados pelos desejos, pelas vontades que aparecem no entardecer, quando tudo está calmo em volta, sequer o barulho da televisão, somente o chilrear de algum pássaro. Os desejos vêm, ora objetivos não realizados, ora propósitos insanos que pusemos em prática, por falta absoluta de sanidade, ora lembranças saudosas de quem se foi e não mais voltou, ora desejos de abraçar aquele filho distante que se foi há tempo cumprir o seu destino.
Temos desejos e vontades insondáveis que andam pelo labirinto da alma, percorrem corredores obscuros, mas, no fim do túnel é possível de vislumbrar o brilho da luz. Enquanto houver desejos, sempre há esperanças. Quando deixarmos de aspirar realizar algum propósito estaremos mortos por dentro.
O desejo é meio parecido com a esperança, embora seja mais contundente que a esperança. A esperança é suave, é romântica, mas é distante, espera-se tão somente. Agora o desejo é a vontade de realizar alguma coisa, é imperioso, o desejo aponta um rumo e só quem é forte é capaz de correr atrás dele.
O desejo e a vontade se revelam tal como sua alma é. Para o prisioneiro o desejo de liberdade é tudo o que resta no cárcere. Para o homem em liberdade seus desejos revelam o mais fundo do seu coração. Mas depende de qual ser estamos falando. O desejo do homem forte vem do mais fundo, do recôndito escondido, é determinado e mesmo sob dores o desejo se realiza. Se vem de um ser acomodado a suplicar tão somente, o desejo é fraco, escorregadio, não se fixa e não vai para frente. Assim o homem é o mediador de suas vontades e desejos. Cada um tem seu empenho e sua força, tanto para o bem ou para o mal. O desejo e a vontade estariam maculadas se a inveja dos bens materiais dos outros vir permear seu caminho. Fuja da comparação e da inveja e sua vontade será satisfeita e seus desejos honestos se realizarão.
Izaura Varella – Advogada e Professora