O grupo animado resolveu, então, ir para o deserto, distante sim, longe do mar, mas ele estava lá amplamente aberto à espera. Um veículo 4 x 4 fez o transporte por entre subidas e descidas nas montanhas arenosas; quando se pensava que as dunas haviam acabado, lá vêm elas outra vez, cada vez mais altas e misteriosas. Enfim, no meio dos solavancos chegou-se à planura arenosa, com o sol se pondo, tão brilhante que ofuscava os olhos. Mal se podia olhar para o por do sol, que a paisagem branca embaraça a paisagem vermelha-branca-amarelada. Junto com o deserto veio a solidão. Deixar-se ficar num lugar onde as areias tão somente campeiam soltas ao sabor do vento levantando, não o grão, mas a poeira do grão de areia. Abria-se uma paisagem desbotada, envolta de um véu branco de poeira, parecendo nevoeiro. Nevoeiro num lugar tão árido, como? E o matiz branco cor de leite, pairava sobre a paisagem, confundindo a terra do deserto com a poeira do mesmo. Lugar misterioso que ao longe se deixa ver um acampamento modesto, uma grande área cercada de finos galhos de árvores trazidas sabe lá de onde, para aquela distância. Abre-se o acampamento e comerciantes vendendo burcas, lenços e vestimentas masculinas, pequenos regalos sem valor. Em cada tenda o chão é de areia e o comerciante baixa o preço, se exaustivamente, se rogar. Escurece e cada um dos visitantes se localiza no lugar marcado para o jantar no deserto. Tapetes sobre a areia, mesas baixas e o visitante senta na almofada junto a mesas sem ter onde esticar as pernas. Na frente um palco, música árabe e alguns exercícios de teatro até que vem aquilo que é proibido: Mulher quase nua, farta de seios, linda de rosto e excesso de véus, uma odalisca dançando e agitando a plateia. O rosto, o corpo proibido de se mostrar nas ruas se despe para todos naquele lugar ermo do deserto. O proibido, a maçã acaba de ser mordida, pelas mesmas pessoas que acham que a maçã é o símbolo do pecado. Contradição! Mas o deserto é assim salpicado de contradições. De dia temperatura elevada que vai para lá dos 50 graus e de noite pode chegar ao zero. Resta ainda observar o céu… E as estrelas onde foram parar? Não tem aquela luminosidade que o hemisfério sul tem. Uma estrela cadente corre como se um vento varresse as constelações, jogando o jogo silencioso da noite.
Estar no deserto é sentir-se extremamente solitário, pois o deserto não salva ninguém, ao contrário, o engole com suas dunas misteriosas. É preciso conhecer o deserto do coração, para vasculhar as estrelas cadentes que deixaram de riscar o céu da vida. Estar no deserto pode ser um itinerário que não buscou, mas estar no deserto não significa que se deve abdicar da vida. Não se pode ficar no mesmo lugar esperando que as estrelas da noite venham iluminar sua passagem. É mister caminhar, caminhar muito ou para buscar as constelações longínquas ou saber se por perto existe um oásis. Sempre haverá um oásis para quem quiser sair do seu deserto. A qualquer tempo!
Izaura Varella
Advogada e Professora