Está funcionando há duas semanas em Cianorte a Delegacia da Mulher. A segmentação é uma demanda antiga na segurança da cidade e atende vítimas de violência doméstica como ameaça, agressão, assassinato, violência psicológica, entre outros casos.
A delegada é Gabrielle Berwig Amaral (foto), que tem sua primeira lotação no cargo depois de 16 anos trabalhando como investigadora na Polícia Civil, em Curitiba.
A estimativa não oficial é que Cianorte tenha uma media de 400 casos anuais de violência doméstica. A Delegacia da Mulher fica na rua Abolição, 538, centro. O telefone é (44) 3631-2169.
ENTREVISTA
FOLHA DE CIANORTE – A senhora está começando um trabalho do zero aqui em Cianorte. Qual a sua expectativa?
GABRIELLE AMARAL – A minha expectativa é muito grande, até porque a expectativa da população é bem grande. Porque Cianorte já espera essa delegacia há algum tempo. Então, espero realizar um bom trabalho e a contento da população de Cianorte.
Como é o desafio profissional de sair da capital do estado e vir para uma cidade pequena no interior?
É um grande desafio, não só para mim como para responder a população. Sei que o índice de violência doméstica em Cianorte é bem grande. O que seria em torno de 1/3 da demanda da 21ª SubDivisão de Polícia Civil aqui.
O que já foi feito nessa primeira semana em Cianorte?
Estou fazendo um levantamento de dados. Como quais são as ocorrências com maior incidência aqui em Cianorte. Na maior parte dos casos é lesão corporal, ameaça, injúria, calúnia, que são os casos mais típicos na cidade.
E a senhora acha que essa estatística possa aumentar ainda mais na cidade com o trabalho de vocês?
Pode aumentar pela criação da Delegacia da Mulher e divulgação dos atendimentos. Porque aqui é um ambiente que não é daqueles típicos de delegacia, embora seja uma delegacia também. Mas, aqui não tem presos e temos um atendimento totalmente voltado para a mulher. Acredito que esses números possam aumentar um pouco por isso. Mas, não que a violência em si aumente. Mas, que as vítimas tenham coragem de vir aqui denunciar.
É comum casos que a vítima mulher chega na delegacia e fica intimidada e até mesmo é mal atendida. Existe um trabalho de orientar os funcionários para atender bem essas vítimas?
A orientação que passo pros meus funcionários, pra minha equipe, é ter atenção com a mulher. É tentar se colocar no lugar dela. Porque não é uma situação fácil. Às vezes, nem a lesão é tão grave. Mas, a própria violência psicológica. Às vezes, a vítima não consegue nem denunciar de tão abalada psicologicamente que ela fica.
E em casos que a mulher se aproveita da Lei Maria da Penha para prejudicar o companheiro, forja uma situação. Esses casos são poucos, são comuns?
Em Cianorte não sei te falar ainda. Mas, com certeza, há pessoas que querem punir o companheiro ou qualquer coisa nesse sentido. O papel da polícia é investigar, verificar a veracidade da denúncia, colher provas e analisar os fatos. E nos casos que a mulher denuncia sem ser crime, ela responde pelo crime de denunciação caluniosa. Por não existir o crime. Nós temos a política totalmente voltada para a vítima. Para que a vítima se sinta segura com a presença da polícia, que vai ajuda-la.
Em termos de estrutura o que tem aqui é ideal ou você precisaria de mais alguma coisa?
Temos uma viatura e aguardo uma escrivã e uma investigadora que estão chegando. A estrutura por enquanto é essa. Por enquanto não devemos receber mais, mas temos a expectativa de um dia ter mais. Mesmo porque estamos só começando um trabalho aqui. Ao longo do tempo veremos qual a necessidade.
Há uma superexposição e muitas polêmicas na mídia e internet com questões de feminismo. Até que ponto isso e positivo e negativo?
Eu acho que a cultura machista ainda persiste no Brasil. Tem os dois lados. Essa propaganda toda é boa, pra vítima saber realmente que é crime. Porque, às vezes, a vítima nem sabe que ela está sofrendo um crime. Às vezes o infrator deixa ela tão abalada emocionalmente, com autoestima muito baixa, que a vítima nem sabe que é crime. É preciso ter essa consciência de saber o que está sofrendo. Por outro lado, também pode estimular denúncias que não são verdadeiras.
PERFIL
• NOME: Gabrielle Berwig Amaral
• NASCIMENTO: 7 de março de 1978
• LOCAL: Curitiba
• FORMAÇÃO: Direito, PUC, 2001
• LAZER: ir ao cinema, restaurante
Texto e fotos: Andye Iore/Folha de Cianorte
- publicado originalmente na edição impressa do dia 10 de julho de 2016.
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