Desmatamento ilegal, condições climáticas extremas e falta de ações preventivas agravaram o cenário. Santarém é um dos epicentros da crise ambiental.
Em 2024, a Amazônia enfrentou o maior número de queimadas e incêndios florestais desde 2007, totalizando 137.538 focos de calor até o início de dezembro, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O aumento foi de 43% em relação a 2023, consolidando a gravidade do desmatamento ilegal e dos impactos climáticos extremos.
O estado do Pará lidera os números, concentrando 54.561 focos de calor. Entre os municípios mais afetados estão São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso, enquanto cidades como Santarém enfrentam emergências ambientais devido à qualidade do ar comprometida pela fumaça densa das queimadas.
“Já vi situações extremas, mas nunca nada tão forte quanto agora. Aqui na comunidade, estamos vivendo cenários inéditos de seca e destruição”, relata Francisco Sakaguchi, agricultor de Tomé-Açu, no nordeste do Pará.
Cenário crítico: o impacto das queimadas
A Amazônia concentrou 50,6% dos focos de calor no Brasil, sendo o bioma mais impactado. Segundo especialistas, as características da floresta tornam o impacto do fogo ainda mais destrutivo, pois a vegetação não tem adaptações naturais de resistência ao fogo, diferentemente do Cerrado.
“A Floresta Amazônica é altamente vulnerável ao fogo por suas características úmidas e sombreadas. Quando ocorrem incêndios, os danos são muito mais graves e permanentes”, explica Alexandre Tetto, engenheiro florestal e coordenador do Laboratório de Incêndios Florestais (Firelab) da UFPR.
O período mais crítico foi entre julho e novembro, com setembro registrando 41.463 focos, acima da média histórica de 32.245. Nas últimas semanas, a poluição do ar em cidades como Santarém chegou a níveis alarmantes, sendo 42,8 vezes superior à diretriz anual da OMS.
Entre setembro e novembro, a Secretaria de Saúde de Santarém registrou 6.272 atendimentos por problemas respiratórios relacionados às queimadas.
Brigadistas e combate ao fogo
O combate às queimadas conta com brigadas voluntárias e equipes do ICMBio e outros órgãos, mas a resposta ainda é insuficiente. Daniel Gutierrez, brigadista em Alter do Chão, destaca que a maioria dos incêndios é provocada por ações humanas, geralmente ligadas ao desmatamento ilegal.
“A vegetação seca facilita o fogo, mas alguém sempre inicia. O fogo natural aqui é raro e, quando ocorre, geralmente vem acompanhado de chuva. Precisamos melhorar a fiscalização e investigação das causas”, afirma Gutierrez.
Esforços governamentais e desafios
O governo federal informou que, em 2024, mobilizou mais de 1.700 profissionais, 11 aeronaves e 300 viaturas para o combate aos incêndios na Amazônia. Também foram criadas políticas como a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, aprovada em julho, e pactos com governadores para reduzir desmatamento e queimadas.
No entanto, apenas 30% do território do Pará está sob jurisdição estadual, enquanto os outros 70% são áreas federais, o que demanda coordenação entre os governos. A Secretaria de Meio Ambiente do Pará reforçou o combate com 120 bombeiros, novas viaturas e helicópteros, mas alertou para a necessidade de maior apoio federal.
Condições climáticas extremas e o futuro da Amazônia
Além do desmatamento, as condições climáticas de 2024 agravaram a situação. Temperaturas mais altas, baixa umidade e estiagem prolongada criaram um ambiente favorável à propagação do fogo.
Francisco Sakaguchi, agricultor no Pará, descreve como mudanças climáticas inéditas estão afetando a vida local:
“Nunca vi meu lago secar ou açaizeiros morrerem pela seca. Este ano foi marcado por 150 dias sem chuva e níveis de umidade abaixo de 50%, algo que nunca aconteceu na região.”
Convite ao leitor
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Fonte: Agência Brasil. A equipe viajou a convite da CCR, patrocinadora da TEDxAmazônia 2024.