PORQUE NÃO TEMOS TREM COMO MEIO DE TRANSPORTE EM CIANORTE

No começo do ano de 1.924, Lord Lovat, um inglês que fazia parte da Paraná Plantations, que deu origem à Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, fundadora de Cianorte, visitou o norte do Paraná, com Gastão de Mesquita Filho, uma área, totalmente coberta de mata original. A idéia era colonizar a área que cobria todo o norte e noroeste do Paraná. Já existia a Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná e a intenção era utilizar esta ferrovia como foco principal do plano de colonização depois da constatação das tentativas falhas de cultivar algodão. A subsidiária da companhia inglesa Companhia Norte do Paraná resolveu então, focar na colonização da região. Em 30 de junho de 1.928 se concretizou uma grande transação comercial: a maioria das ações da ferrovia foram adquiridas por ela, assim como todas as terras de mais de 515.000 alqueires, negociados com o Governo do Estado do Paraná.

Esta ferrovia que ligava São Paulo ao Paraná era uma das mais importantes do Brasil. A perspectiva era avançar os trilhos de trem para transporte, de forma que alcançasse toda a produção agrícola e industrial que viessem do Paraguai e Argentina passando por Guaira. Uma idéia realmente ousada, considerando que o Paraguai não é banhado pelo oceano. Atravessar o Rio Paraná e dar oportunidade para que a madeira, o café, cereais , o algodão e outros produtos destes dois países era um plano realmente muito audacioso. Em todo o norte do Paraná, no começo de 1.930 a população de toda área era de NINGUÉM! Homens anônimos e corajosos foram entrando pela mata desde Cambará, abrindo a vala para construir a estrada de ferro, passando pelo vale do Rio Ivaí, cujo objetivo era alcançar Guaira. E as valas da ferrovia foram se abrindo, entrando na área onde seria construída e fundada a cidade de Cianorte. Quando Cianorte foi fundada em 26 de julho de 1.953 a estrada de ferro já estava construída atravessando a Avenida Goiás, sob o pontilhão de madeira, construído pela companhia. A Companhia foi fundando cidades ao longo da estrada de ferro, por Londrina, Cambé, Rolândia, Apucarana, Mandaguari, Maringá e Cianorte. Para chegar a Cianorte foi necessário construir uma ponte, pois, a balsa já não dava conta dos transportes. A princípio a ponte sobre o Rio Ivai, em direção à Cianorte não tinha a projeção da estrada de ferro, tão somente a passagem de concreto. Negociações foram feitas junto ao Governo e a estrada de ferro se estendeu por cima da ponte, rumo Cianorte. A Companhia contratou uma empresa de Belo Horizonte chamada Cia. Barbosa Mendes Carpet, que abriu a esplanada e construiu o pontilhão da avenida Maranhão. A estrada de ferro chegou em Maringá em 1.954 e ali ficou por 13 anos. Em 1.972 foram inaugurados os trilhos da estrada de ferro de Cianorte. Em 23 de outubro de 1.972 saiu de Cianorte uma partida de 1.500 sacas de café em direção ao Porto de Paranaguá! Eis que chega a grande geada de 1.975 que simplesmente, queimou todos os pés de café da região de Cianorte, até o tronco. Muitos alqueires foram arrancados e replantados com pouco ânimo, outros foram cortados até o tronco para a rebrota. E ai a estrada que chegou em Cianorte nunca mais se estendeu, por desinteresse da política de transportes do país e do próprio governo do estado. Para transporte de passageiros era necessário eletrificar as linhas, duplicá-las, mudar a bitola métrica para a bitola larga, para tirar a trepidação e alcançar maiores velocidades. As estradas de rodagem começaram a se duplicar em todo estado e a tese apregoada aos quatro cantos de que era iminente a decadência e a morte dos trilhos aconteceu. Fim!

Izaura Aparecida Tomaroli Varella