“Eu sou o Alfa e Ômega, o Primeiro e o Último, o Começo e o Fim.”
Apocalipse – IV – Epílogo 13.
Duas mulheres guerreiras, pioneiras de Cianorte foram
levadas pelo COVID nesta semana que passou, mas este bichinho maldito não pode
impedir que ambas fossem recolhidas pelas mãos de Deus. Tenho que crer nisto,
senão a paz não vem e as lágrimas não vão secar. CRISTINA GWADERA, minha amiga
de adolescência e MARIA NEUSA TOMAROLLI, minha irmã primogênita, partiram com
a diferença de dois dias. Achávamos que as duas iriam resistir, ambas eram saudáveis,
nunca soubemos de nenhuma doença de Cristina, e Maria Neusa nunca ficou doente
em todo o tempo que esteve em nossa família. Nosso avô viveu 98 anos e eu brincava
com ela dizendo que ela passaria o nosso avô Domingos Moretto, também pioneiro de
nossa cidade.
Com a Cristina, andávamos pelas ruas empoeiradas de
Cianorte, sem asfalto, e íamos para a Escola Normal, pela rua Piratininga, e juntas, nos
formamos professoras. Pertencemos à primeira turma de normalistas da extinta da
Escola Normal Secundária “Cândido Portinari”. Começamos juntas, nossa carreira no
magistério, afinal éramos requisitadas, pois, em 1.964, numa festa deslumbrante da
primeira turma de normalistas de Cianorte, no Cine Cianorte, que acabava de ser
inaugurado, recebemos nosso diploma de professoras. As primeiras professoras
formadas em Cianorte. Estávamos com a alma leve e levamos nossa magna profissão
com rigor e seriedade, até chegarmos à aposentadoria. Cristina era uma pessoa alegre,
e, curiosamente, assim que a Rádio Porta Voz organizou um programa de auditório,
aos domingos, Cristina Gwadera foi convidada a comandar o programa. As pessoas se
inscreviam, cantavam, crianças e adultos, recitavam e o auditório da rádio estava
sempre lotado, bem ali na esquina da rua Guararapes com avenida Souza Naves… Era
nosso programa de domingo, nos idos dos anos 60. A Cristina abafava e encantava a
todos pela sua desenvoltura. A filha de João Gwadera e Maria, que não se chamava
Maria, mas, Wladislawa Gwadera, tinha mais duas irmãs Irene e Janina, lindas,
branquinhas, delicadas, vivas, graças a Deus. Moravam na avenida Maranhão, bem em
frente onde está sendo construído o Hospital Municipal Irmã Benigna. Quantas vezes
desfilamos juntas nos famosos desfiles de 26 de julho, aniversário da cidade e em Sete
de Setembro, patriotas, orgulhosas na nossa nacionalidade! Demorou para casar, mas
o casamento saiu sim, com o ex-Deputado Estadual Hélio Manfrinato.
Que emoção me toma a alma quando falo de minha irmã
Maria Neusa Tomarolli. Quando mudamos para Cianorte, 1.959/1.960, ela apenas era
uma garota simples, com já com o ensino médio completo e cheia de sonhos. Estudou
no Instituto Nossa Senhora Auxiliadora em Cambé, antes de mudarmos para Cianorte.
Trabalhava dia e noite no Bar Lux, junto com meus pais Caetano Tomaroli e Dona
Amélia. Era um simples bar e restaurante de madeira, bem no centro da cidade, onde
hoje se localiza a Loja Brasileira. Ajudava minha mãe na cozinha e minha mãe servia
comida aos fregueses, lavava as xícaras no balcão do bar. Alguns anos depois se casou
e foi embora para Apucarana. Ficou viúva. Criou três filhos: Marcelo que foi
assassinado quando ladrões assaltaram sua empresa de moto táxi. Foi uma tragédia e
sofrimento para ela. Ainda criou Sueli, médica e Sandra, a caçula. O tempo passou e
casou-se com um argentino e foi morar em Matinhos, eis que maturidade exigia mais
descanso. Formou-se em Letras, falava bem o inglês, para depois formar-se em
Enfermagem. No hospital Municipal de Matinhos trabalhou muitos anos como
enfermeira e pediu a aposentadoria. Minha filha Ana Luiza cuidou dela com carinho e
zelo, como se filha fosse, deu-lhe conforto; ela não aceitava a ideia de ser entubada,
pois como enfermeira ela sabia a gravidade de tal procedimento; ela não foi poupada
desta dor. Ana Luiza nos proporcionou momentos de comoção e encontro com ela,
através de uma ‘live’, rezamos com ela, juntos, os três irmãos; recebeu a unção dos
enfermos, e, serenamente, descansou com um terço nas mãos e abençoada com óleo
bento, ao lado de seu companheiro Luiz que não a desamparou em nenhum momento,
eis que também esteve internado com Covid.
E esta dor de perdê-la não passa e sua falta entre nós
jamais será preenchida, mesmo acreditando firmemente, Naquele que é o Princípio e
o Fim!
Izaura Varella, acreditando em Deus!