De repente, nos damos conta de que vivemos já um bocado de tempo, considerando a data do nascimento. Passamos a infância, a adolescência repleta de ruídos e cheia de incertezas, a juventude, fase em que tudo é possível e, devagar, sem perceber, mas, de repente nos defrontamos com a idade madura. Não significa um número de anos que alcançamos, mas, sim, o resultado de que tudo o que já vivemos desde que nascemos. Aí se percebe que as cortinas do grande palco, já começam a fechar-se, lentamente, e a visão do enorme palco já se torna bem menor. E vai ficando menor a cada dia. Constata-se que a energia que fluía sem perceber, flui com critérios, ‘isto eu posso, isto eu não posso, vou arriscar’. Cai sobre os ombros a responsabilidade de formar uma família e a obrigação de ser feliz. Afinal, só vivemos uma vez, com este corpo, com estes desejos e com estes planos. E se chega a real constatação de que já não fazemos parte daquela roda alegre de amigos; uns já se foram precocemente, se encontrar com o Eterno em outro plano. Outros se afastaram, mudaram de cidade, adoeceram, se recolheram em seu silêncio. Aliás, o silêncio é uma grande característica da segunda metade da vida. E nesta fase que se cresce como ser humano e se busca sua própria alma. James Hollis dizia: “Sempre que levarmos consciência para o lugar do encontro com a alma, seremos mudados e, desejando ou não cresceremos.” A alma é que nos torna mais profundamente humanos e nos impulsiona de forma incessante em direção à consciência de si mesmo e de nossos limites.
Encontrar-se é uma das principais características da segunda metade da vida. Não é tudo o que nos importa mais. Aquela roupa da moda, aquele sapato com modelo novo que lançaram, as baladas alvoroçadas já não tem a mesma perspectiva de antes. Isto não significa que estar na segunda metade da vida é renunciar ao que fora bom no passado. Acontece que nesta segunda metade chega o despertar de que, nem tudo pode ser interessante, e que a verdade daqueles que nasceram depois de nós, pode não ser a verdade que procuramos encontrar hoje. Estar na segunda metade da vida não significa renúncia e sofrimento, mas, a alegria de participar da colheita, de tudo o que plantamos ao longo do caminho no decorrer dos anos. Estar rico pode ser confortante, mas, não tem nenhum significado quando nada se colhe. Não se colhe, não porque as chuvas não vieram e as sementes não foram plantadas no tempo certo. Não se colhe porque não se plantou ao longo dos dias vividos. A segunda metade dos anos que nos resta viver sempre será serena, generosa, feliz, solidária se vivemos os anos da primeira metade da mesma forma.
Envelhecer é um dom de Deus, uma benesse divina que merece a todo instante este reconhecimento, pois. muitos que viveram a safra, não chegam à fase da colheita!
Izaura Varella