Quando o primeiro Prefeito Municipal de Cianorte Wilson Ferreira Varella assumiu seu mandato (20/12/1.955 a 12/12/1.959) já começou a compor a equipe que ia trabalhar com ele. Na época não existia o cargo de Vice-Prefeito. Wilson, então, escolheu Amândio Mathias que foi o primeiro funcionário público municipal da cidade e empossado no cargo de Secretário Municipal de Cianorte. Na verdade, não havia repartições, a prefeitura nascia e se organizava e Amândio era uma espécie de “faz tudo” e que muito auxiliou o prefeito. Embora Cianorte tivesse um jornal chamado “A Voz de Cianorte”, de circulação intermitente, não prosperou. Amândio, então em 1.955, fundou “A Hora de Cianorte”, e em seguida “O Espinho”. Este jornal foi o precursor do jornal “A Tribuna de Cianorte”, que foi fundado em 1.965, posteriormente. Amândio escrevia e era o editor do jornal e com verve sarcástica, sempre fazia comentários sobre a política local, sempre de acordo com seu próprio ponto de vista. “O Espinho” era assinado por “Zé Veneno”, e era uma sátira que falava dos fatos que Amândio presenciava e que vinha, a saber, por uns e outros. Não perdoava ninguém, por isto era muito amado, mas, muito temido também. Amândio era uma figura folclórica, bom pai, boêmio, gostava de futebol, e só publicava aquilo que tinha certeza e com provas. Era uma pessoa determinada e muito organizada. Um dia, ele organizou um baile em Cianorte e aconteceu uma grande chuva e o barro não permitiu que a orquestra chegasse a tempo da realização do baile. Amândio não teve dúvidas. Pediu para os presentes não irem embora e Amândio voltou depois de algum tempo e trouxe com ele o “Pinga”, dono do conjunto que tocava na Boite Estrela na Zona de Meretrício da cidade e mandou-o tocar no lugar da orquestra que ficara com seu ônibus preso no barro da estrada. O seu modo de viver, determinado e crítico, o levou à morte.
No dia 31 de julho de 1.977 ele publicou no seu jornal “A Tribuna de Cianorte”, uma pequena nota com o título “Conto do Vigarista”. Falava que um vigarista chamado Antonio Silveira Neto andava pelas famílias rurais aplicando o conto da aposentadoria e tendo lesando lavradores incautos, muito deles. Dizia o jornal “que era um vigarista vendendo aposentadoria a troco de seja”.
No dia 4 de agosto de 1.977, Amândio foi ao Posto Rodovia, na entrada da cidade, abastecer o seu Chevette. Bastou aquela pequena nota de Amândio para o bandido planejar uma tocaia. Aproximou-se de Amândio e perguntou: “O senhor é o Amândio Mathias”? Ao responder que sim foram atiradas quatro balas à queima roupa e que acabou tirando a vida de um dos homens mais conhecido e popular da imprensa do Paraná. E ainda o assassino saiu tranquilamente, nunca mais foi achado, dizendo “gaúcho não leva desaforo prá casa”. Foi uma perda inestimável de um amigo de seus amigos, inimigo irreconciliável das falcatruas, ousado, polêmico, temido e que ao mesmo tempo em que era amigo do político também os denunciava.
Amândio Mathias pioneiro legítimo da cidade completa agora em 4 de agosto de 2.020, 43 anos de sua morte.
Um pouco da história de Cianorte não faz mal a ninguém
Izaura Varella