Numa tarde de sábado, quente e seca, debrucei-me na frente da televisão e acabei assistindo um programa onde a pergunta do apresentador era muito simples. O candidato a um milhão de reais deveria responder “quantos segundos tem uma hora”. Quatro alternativas estavam estampadas na tela e entre elas estava a resposta. O candidato era pós-graduado em Direito e com pós-doutorado, e ainda exercia a função de juiz leigo num juizado de pequenas causas. A princípio, pelos elogios da mãe ao jovem filho letrado, tudo indicava que se tratava de um ‘lerd’ estudioso e culto. Qual não foi minha surpresa o jovem tão cheio de diplomas não soube responder (e eu já tinha feito o cálculo de cabeça e sabia a resposta, aliás, muito fácil) foi pedir ajuda pelo whatshap e a resposta veio rápida e precisa: 3.600 segundos! O sábio jovem estava salvo, naquele momento, pois, não conseguiu ir adiante, errando a próxima resposta. Eliminado!
Assim é nosso cotidiano também! Se ignoramos as respostas das coisas que nos afligem, certamente, seremos eliminados também. O jovem tinha inúmeros diplomas, dizia ter muitos conhecimentos, mas não tinha sabedoria diante das respostas mais simples que a vida requer. A sabedoria, a profunda sabedoria de uma pessoa só se estabelece quando ela passar grande parte de sua vida nos pantanais existenciais. Ser réu da dúvida e do erro, ser indeciso ao tomar decisões. Tudo isto é um exercício! O que realmente traz sabedoria a alguém é o sofrimento, que faz o ser humano crescer. A reflexão sobre o sofrimento pessoal, quando bem direcionada e o vivente tem consciência do porquê deste sofrimento, significa que a vitória está por perto. Aí sim, está condicionada a teoria da sabedoria. Só é sábio quem consegue dentro do sofrimento e desencanto, conseguir enxergar que além desta paisagem existe outra muito benevolente e mais calma, sem remorsos e sem culpas. Encarar o sofrimento de frente significa descobrir novos ‘fronts’, reunir ‘insights’ e ao longo do caminho trilhado abrir espaço para o novo, para aquele comportamento que substitua a dor.
Nunca chegaremos numa campina de sol nascente e a uma paisagem de calmaria se não olharmos para frente e buscar mudar nossos destinos. É mister ter determinação. A fatalidade de que tudo tem quer assim, porque nascemos para sofrer não encontra respaldo na mudança de atitude. Temos que parar de ver a paisagem através do vidro embaçado, porque assim não vemos a paisagem inteira. Temos que interromper a crendice de que não se é capaz! Superar-se é extremamente difícil, mas é possível! É preciso desnudar-se para ser feliz, único objetivo do ser humano. E ser feliz é encontrar-se com Deus!
Izaura Varella – Professora e Advogada
Em outubro de 2.019