Quando os cabelos ficarem alvos querendo chegar perto da cor do algodão maduro, em tempo de colheita, talvez seja o momento de refletir sobre as coisas que fizemos. Quando as rugas começarem a sulcar a pele e suas marcas começarem a se integrar na nossa imagem talvez estejamos em tempo da maturidade. Quando os anos passarem e passam tão rápidos, de tal forma que nem percebemos chegará o momento de dizer adeus à adolescência que vivemos a vida toda. Viver adolescente, fazendo coisas malucas, ressoando gargalhadas sem maldade pelas calçadas da vida é uma vocação.
Mesmo que sucedam os dias no calendário mal amado, mesmo assim, viver ‘adolescente’, cheio de esperança é um meio de ser feliz.
Os fatos que assumem importância na mesma grandeza da fúria só nos tornarão mais infelizes. É preciso ser pertinente com eles e deixar que fluam por entre nossas mágoas e as sanem de vez. Quando olhamos a criança de nove anos que resplende para a vida, que acredita que todos os seus sonhos se realizarão, não estamos assistindo uma sessão de ingenuidade, mas de pureza e de fé. Acreditar é mesmo uma vocação, é um rumo a se tomar, é um indicativo a seguir, é um caminho que se abre e as oportunidades jamais deverão ser perdidas.
Viver adolescente é tornar a vida corajosa e o enfrentamento nos torna mais fortes e mais experientes. A adolescência só acaba quando queremos. Ainda ouço o riso solto daquela companheira que se foi e não mais voltou, mas que deixou no tinir de seu riso o som da perplexidade diante da vida. A amiga de seis décadas ainda é uma adolescente quando satiriza as intempéries e não foge da vida, mas, sim a enfrenta… Somente acreditar e insistir talvez sejam o melhor rumo a tomar nesta tão paradoxal existência. Manter a adolescência… Quando estamos nesta fase da vida a coragem é um dom natural e avançamos quais soldados armados para uma batalha, enfrentando tudo sem dor e sem sofrimento. Adolescentes desconhecem o lado de cá e vivem seu mundo único e impenetrável. È necessário ser adolescente de vez em quando. De vez em sempre, nunca, porque nossos amigos não nos suportariam. A idade requer papos sérios de vez em quando, filosofia de vida, queixas e lamentações. Mas entre tantos desabonos da vida, melhor ressuscitar o adolescente que não morreu dentro de nós.
Ainda há muito que se comemorar. A vida continua fustigando a gente com suas novidades, os amigos nos rodeiam e reclamam de nosso amor intermitente e querem mais. Somente ser “adolescente” é possível fazer trazer de volta estes desvelos. O adolescente faz birra, briga muito, sonha demais e faz planos. Ama e beija muito também… Talvez este seja exatamente o grande problema de quem envelhece. Não fazer mais birra, não sonhar mais e não fazer planos. E deixar de beijar muito… Melhor mesmo é cantar o sambinha maravilhoso que explode o nosso coração quando ouvimos a sua letra descomprometida: “deixa a vida me levar, vida leva eu, sou feliz e não sabia com tudo o que Deus me deu.”
Izaura Aparecida Tomaroli Varella
Advogada e Professora – e-mail: izauravarella@uol.com.br