DEIXA-ME PASSAR…

Deixa-me passar, sou feito da mesma substância que os dias…

Paulo Bonfim

Não queremos empecilho, pois, queremos passar por aqui da forma que somos, não da forma que os outros querem que sejamos. Como todos tem a mania de dar palpite na nossa vida, eim.

Bem vimos esta característica do ser humano, claramente, durante este período político que antecedeu as eleições de hoje e pós-eleição. Todos os sentimentos vieram à tona, desde os mais espúrios, até o mais esperançosos. As janelas da alma se escancararam e a imagem do bom cidadão passou sem licença por toda a cidade, revelando os mais impuros sentimentos e a busca desenfreada pelo poder. Buscar o poder não é mau, quando se tem boas intenções. Buscar o poder somente para fixar a imagem de pessoa boa, generosa, sem sê-lo, isto sim, é mau. A raiva decorrente transforma-se em processos na justiça como forma de vingança e assim a raiva vai tomando identidades, corporificando-se em atitudes insensatas e provocando discórdias. E cada vez mais o ser humano vai ficando mais infeliz.

Fomos concebidos por Deus como seres humanos para sermos felizes. O homem é o melhor exemplar da natureza, eis que, diferente dos animais, é capaz de falar, sorrir, sonhar, fazer planos, pensar. Mas tal qual um vegetal ou um animal nasce, vive e morre. Quando uma planta morre ela não deixa muitas saudades, porque embora seja uma espécie admirada, outra a substitui. Assim como um animal. No entanto, quando um ser humano morre ele faz falta, porque somos exemplares especiais que chegam ao mundo com um destino e a este destino cada um é capaz de construir seu próprio caminho. A tendência do homem é construir caminhos perigosos e ir para o caminho do enfrentamento. O resultado disto chama-se INFELICIDADE. A pessoa infeliz, quase sempre é dominada pela inveja e pela ira, que são um dos pecados capitais que encontram-se escritos nos manuais religiosos.

Ora, se temos a opção de sermos melhores, por que não sê-lo? Mas “se não sê-lo como sabê-lo?” como dizia o poeta. E assim, vamos percorrendo o pior caminho, justamente, aquele que leva à competição desenfreada e sem fim, isto é, o próprio caminho da infelicidade. Não nascemos e fomos carimbados para termos a aprovação de todos, eis porque, como dizia Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”. Mas precisamos ser aprovados por nós mesmos, questionando nossa alma, se os caminhos que estamos trilhando é o caminho que conduz a felicidade, se este trilho é aquele que vai nos deixar mais calmos, mais satisfeitos, menos inquietos como as projeções que fazemos de nós mesmos.

Quando eu era criança fui alfabetizada numa cartilha chamada “Alegria e Bondade”. Na capa havia uma criança feliz olhando para um caminho colorido que levava a um sol brilhante. Eu amava olhar aquela capa da cartilha e lá fui construindo meus sonhos, olhando para a frente, percorrendo um caminho longo, algumas vezes coloridos que conduzia a um final onde estivesse fincada a felicidade. Talvez o autor da cartilha desejasse plantar no coração de cada criança alfabetizada a ideia que o caminho que percorremos somos nós mesmo que construímos, a busca do sol depende de cada um de nós e o colorido que damos sempre vai depender da cor da nossa alma.

Izaura Varella

Advogada e Professora