A perda da inocência


Quanto mais entramos na vida adulta mais perdemos a inocência, seja pelo choque com realidade do mundo ou seja pelas ditas “convenções sociais”.

Enquanto crianças e adolescente temos uma inocência que se alia a curiosidade e nos faz correr em buscas de novas sensações, porém quando adultos, sofremos com a perca dessa inocência e por muitas vezes tornamo-nos depressivos ou amargurado.

Quando essa perda se dá pelo choque da realidade, isso ocorre pelo surgimento de um senso “extra” de realidade. Como exemplo cito um amigo que certa vez me contou que ao ir morar sozinho para fazer faculdade em outro município acabava tento muitas vezes sua água e energia cortadas. “Todo mês era um desespero pois tinha água e luz cortados por não pagar as contas, e foi quase um ano assim até me acostumar com a rotina de pagar elas, pois quando morava com meus pais não precisava me preocupar com isso.”, dizia.

Mas não é só as contas que surgem nesse choque de realidade, vem junto outras coisas que enquanto jovens não nos preocupamos, como ter que trabalhar para ter dinheiro para se sustentar; a necessidade de se planejar para conquistar algo; ter que “se virar” para ter comida pronta na hora, roupas e casa limpa.

Contudo, a perda da inocência com o choque de realidade é a menos complicada de se lidar já que com o tempo acabamos nos adaptando.

Entretanto, ao se perder a inocência para as “convenções sociais”, podemos ter consequências mais complicadas de se lidar. Veja bem, já quero deixar claro que essas regras são importantes para um bom convívio, mas algumas vezes as mesmas devem ser levemente quebradas, por, digamos, um bem maior: a felicidade.

E digo isso, principalmente, pensando nas relações afetivas. Quando crianças as demonstrações de afeto são comuns e frequentes, mas ao crescermos, aprendemos a não demonstrá-los em público, por não ser bem vistos perante a sociedade.

E passei a pensar nisso há alguns dias quando vi dois adolescentes se beijando em plena rua. E lembrei de uma conversa com minha esposa, e aqui abro um “certo parênteses” para explicar – quando namoravamos não tínhamos vergonha de trocar carinhos em público, mas depois de casarmos isso mudou, ela já não se sentia a vontade com isso, e certa vez ao tentar beijá-la ela meio que me rejeitou dizendo que aquilo não era certo, pois as pessoas poderiam nos julgar. Tive uma única reposta para ela: “Por que? Ninguém pode falar nada, não estamos fazendo nada de errado, agora é que podemos fazer essas coisas sem nos preocupar, pois somos casados.”

A partir de então ela ficou mais tranquila a isso. Outro exemplo de como essa preocupação com o que os outros vão pensar contribuem com nossa perda de inocência, vem de um casal de amigos meus. Eles estão juntos – entre namoro e casamento – há 25 anos; e certa vez me disseram que estavam pensando em se separar. Ao indagar o motivo disseram que já não tinham mais aquela sensação que tinham no namoro e que agora que as filhas estavam adultas não tinham porque continuar juntos.

E como sempre tive em mente que não há problemas sem solução, comecei a conversar com eles, pois como tinham dito que sentiam falta das sensações do namoro eu fazia idéia de qual seria a solução, pois, veja bem, em anos de amizades, convivendo com eles, nunca tinha visto eles demonstrarem carinho um com o outro, além de um ou outro “dar as mãos”, nunca havia visto eles trocarem sequer um “selinho”.

Ou seja, tudo resumia-se a perda da inocência, da sensação de novas descobertas, da falsa ideia do que é certo ou errado perante a sociedade.

Conversando perguntei como era o namoro, o que faziam e conforme iam contando via ali que havia ainda a brasa da paixão entre eles, faltava apenas reacendê-la.

Sugeri para eles fazerem um teste, tirarem um fim de semana exclusivos dos dois, sem preocupação com quem quer que fosse, para se divertissem como se ainda fossem namorados, se aventurassem e depois de fazer isso, melhoram bastante e hoje já não estão mais pensando em separar-se.

Eu não entendo das pessoas, mas entendo de mim, por assim dizer. Eu sou bem feliz, é claro que vez ou outra dou uma zicada, mas vejo que a vida é simples, basta querermos viver e, não perder a nossa inocência e o desejo de novas descobertas.

Sou uma pessoa analítica e planejadora, mas vez ou outra deixo meu lado “criança” tomar conta e me aventuro, e por sorte, tenho uma esposa que me acompanha nas aventuras, principalmente, quando viajamos e nos deixamos levar por novas descobertas.

Então, podemos dizer que ao crescermos e nos tornamos adultos devemos assumir nossas responsabilidades e aceitar as regras sociais, mas não podemos também esquecer que podemos curtir a vida com nossa inocência e espírito de criança.

Juliano Secolo, agradece o espaço cedido por Izaura Varella

Cianorte, 03 de Fevereiro de 2019