O trabalho da Polícia Militar vai muito além de ter carros e policiais nas ruas. Há serviços de inteligência, banco de dados com mapeamento da criminalidade e até de Comunicação. Alguns desses serviços a população não conhece e não existiam antes da implantação da 5a Companhia Independente de Polícia Militar (5a CIPM) há pouco mais de dois anos em Cianorte.
A relação entre o trabalho de rua e o de bastidor faz com que reduza a criminalidade e aumente as prisões na cidade (leia abaixo). A CIPM atua em seis cidades (incluindo Jussara, Terra Boa, Indianópolis, São Tomé e São Manoel do Paraná), numa população de mais de 115 mil pessoas.
O major José da Silva Neto (foto) fez um balanço da atuação da PM até agora na cidade e comentou assuntos como reforço na segurança, trânsito, parcerias e cobranças, entre outros. Confira:
ENTREVISTA
FOLHA DE CIANORTE – Qual é o balanço que você faz da atuação da 5a Companhia em Cianorte nesses dois anos?
MAJOR SILVA NETO – Tivemos um começo difícil em relação ao efetivo. Depois recebemos 47 novos policiais repassados pelo comando regional e isso melhorou o policiamento nas cidades da 5a Companhia. E agora estamos formando novos policiais para que possamos cobrir essa área de maneira satisfatória. E também melhorar o atendimento para a população. Também recebemos equipamentos novos e armamentos. E agora vamos melhorar a parte estrutural da Companhia e tentar mais viaturas. Esses dois anos foram de muitas lutas, mas não alcançamos ainda os nossos objetivos. Isso mostra como é difícil criar uma Companhia. E também como é difícil manter.
Teve algum setor que teve mais atuação da PM?
Os crimes contra o patrimônio são recorrentes em todos os municípios. É cíclico também. E principalmente quando há uma crise, como vem acontecendo desde o começo de 2015. Tivemos um aumento nos crimes contra o patrimônio desde então. Essas variantes são externas no trabalho da Polícia Militar e impacta na população. A perspectiva é que diminua com o passar do tempo, com a melhoria na situação econômica do país e o efetivo da polícia.
Quais são as principais diferenças em relação a quando o senhor chegou em Cianorte e agora?
Nós setorizamos as áreas de policiamento, para que cada bairro tenha sempre um policiamento voltado para aquela região. Melhoramos o número de viaturas. Criamos a Rocam [Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas] para fazermos frente aos roubos na cidade. Aumentamos o efetivo do canil para dar suporte nas operações. Estamos melhorando o atendimento no telefone 190. Então, estamos numa crescente. As dificuldades que temos são comuns em vários setores pela crise no país.
A P5 também não tinha. Como o senhor trabalha com a parte de Comunicação e as estatísticas?
A nossa meta é manter a população informada. O serviço policial é público e as pessoas tem direito e dever de se manterem informadas. Isso também é uma forma de trazer a população para perto da Polícia Militar. Isso com campanhas, reportagens jornalísticas, contato mais próximo com a imprensa que passa a ter mais confiança na Polícia Militar porque recebe informação qualificada. Esse serviço acaba trazendo um retorno para nós porque a população tem confiança porque fica sabendo através da imprensa e nos retorna com outras informações que precisamos para fazer frente à criminalidade. Isso colabora para aumentar as denúncias pelos telefones 181 e 190.
A 5a Companhia tem atuado também com a parte de inteligência, estatísticas, que era um trabalho que você tinha em Maringá…
Trabalhamos muito com atualizações. Estamos acompanhando as mudanças cíclicas da criminalidade. Ainda há dificuldade nos registros de ocorrências porque a população não registra as ocorrências sempre. A falta de alguns dados do que não é registrado pelas vítimas, causa dificuldade de planejamento e para implementarmos serviços em algumas áreas. A polícia precisa de informação sobre pessoas e sobre os crimes. Estamos diminuindo esse problema com o trabalho de Comunicação e melhorando o atendimento no 190. Com isso, podemos analisar melhor as estatísticas e colocar o policiamento nos locais mais necessários.
A festa de aniversário da cidade reuniu uma multidão e não houve ocorrências graves no interior da festa. Como é trabalhar num evento grande?
Fazemos um planejamento prévio baseado nas festas anteriores. Analisamos um histórico do público e do que aconteceu, as informações do promotor do evento como os tipos de atrações que terá. Daí vemos a necessidade do efetivo. Tivemos alguns casos fora do recinto da festa e um caso difícil de fazer a prevenção que foi uma morte provocada por ciúmes de um ex-namorado. A Polícia Militar trouxe um caminhão com sistema de monitoramento e que foi usado na Copa do Mundo, em Curitiba. Foi uma festa com grande público e não aconteceu nada grave dentro da festa. E o que aconteceu agora já está registrado para analisarmos para a festa do próximo ano.
Tem previsão de melhoria para a PM em Cianorte ?
Vamos encaminhar para o governo do estado projeto para melhorar a parte estrutural da Companhia. Mas sabemos da dificuldade de se fazer isso hoje. Temos que ter o pé no chão e pensar no momento. Por outro lado, já tivemos grandes conquistas na segurança na região. Também podemos pensar na criação de um batalhão aqui, o que trará mais estrutura, mais policiais e equipamentos. Isso acontece conforme a cidade vai crescendo.
Há uma boa parceria entre a prefeitura de Cianorte e o governo estadual, o que faz com que a cidade receba melhorias frequentemente…
O custo de contratação de pessoal é alto e a longo prazo. O governo fez esse esforço e contratou mais de 2 mil policiais para o Paraná da última vez. Cianorte é reconhecida e por isso recebeu 40 policiais. E com o tempo vai receber mais por ser um polo regional.
Também acontece uma boa parceria entre as polícias de Cianorte… É fácil fazer isso em qualquer cidade?
É uma visão estratégica do governo estadual. Para que as polícias atuem de forma integrada para atender bem a população. Se cada polícia trabalhar individualizada, ficará difícil. E percebemos que isso traz melhorias. Tanto para as polícias como para a população.
É comum acontecer em Cianorte pessoas fazerem ofensas pela internet. Já houve ação na Justiça e até durante a festa de aniversário da cidade a PM também foi vítima disso. Você acha que a pessoas perdem o bom senso pelo computador?
No nosso trabalho também usamos essas ferramentas. As pessoas que se sentem ofendidas por críticas na internet, podem requerer nos provedores as informações e entrar na Justiça. Às vezes, há quem publique coisas que nós não divulgamos para a imprensa. E isso causa uma indignação nos policiais. No caso que aconteceu os dados não eram verdade. Nós passamos depois os dados verdadeiros porque não escondemos nada. As pessoas precisam ter responsabilidade sobre isso porque causa problemas. E também tem quem quer se auto promover e divulga algo falso. As pessoas acham que ficam impunes na internet e não é assim. Há meios de identificar e, por isso, é preciso ter cuidado com o que se posta ou compartilha na internet. O ideal é se relacionar no mundo virtual como se relaciona no mundo real.
O Pelotão de Trânsito ainda não foi implantado oficialmente. Como está esse trabalho, já que Cianorte tem uma demanda grande no setor?
Fazemos esse trabalho, mas ainda não temos um efetivo para isso. Os problemas de trânsito acontecem em toda a região e impactam em nosso serviço. Mas isso pede mais tempo. Esses novos policiais vão colaborar com isso também. Hoje usamos a base móvel e temos operações semanais em pontos diferentes da cidade. Cianorte tem muitas infrações de trânsito. E a prefeitura também tem uma boa percepção e atuação sobre isso.
Quando há ondas de crimes a comunidade e entidades como o Conselho de Segurança cobram as polícias. Como você lida com isso?
Fazemos um acompanhamento diário do que acontece, dos crimes, dos tipos de crimes. Atuamos com o serviço de inteligência buscando as informações e identificar os criminosos. E também temos a prevenção para diminuir esses crimes. Temos um relacionamento cordial com o Conselho e outras instituições. Debatemos esses problemas que não afetam só a Polícia Militar.
A PM apreende adolescentes infratores, mas não há lugar adequado para eles ficarem, não tem vagas nos centros socioeducadores e eles acabam soltos. Como você avalia isso?
Como não temos um Cense em Cianorte, temos essa dificuldade. Também temos problema com presos que demoram para serem julgados. Por isso precisaríamos de mais uma Vara Criminal. E outras situações que não fazem parte do trabalho policial, mas impactam em nossos serviços.
ESTATÍSTICAS DA PM:
PRISÕES POR TRÁFICO
2013 – 68
2014 – 140
2015 – 135
2016 – 76 *
APREENSÕES DE ARMAS DE FOGO
2013 – 26
2014 – 36
2015 – 36
2016 – 27 *
PRISÕES/APREENSÕES DE PESSOAS
2013 – 666
2014 – 792
2015 – 754
2016 – 448 *
CRIMES DE TRÂNSITO
2013 – 155
2014 – 129
2015 – 87
2016 – 47 *
* até essa semana
REFORÇO
Em breve Cianorte receberá mais um reforço na segurança. São 39 solados que fazem curso da Polícia Militar. A parte teórica acaba em setembro e os alunos farão a parte prática com policiamento nas ruas até janeiro de 2017. Depois há a formatura e a distribuição para os municípios da 5a Companhia Independente da PM na região.
PERFIL
NOME: José da Silva Neto
NASCIMENTO: 17 de abril de 1968
CIDADE: Cruzeiro do Oeste
FORMAÇÃO: Direito; Especialização em “Gestão de pessoas”
FAMÍLIA: casado, pais de dois filhos
LAZER: ler livros
Texto e fotos: Andye Iore / Folha de Cianorte
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