O ministro das Comunicações do Brasil, Paulo Bernardo, 62 anos, visitou a região de Cianorte essa semana em agenda de campanha no interior dos candidatos do Partido dos Trabalhadores (PT). Depois de se reunir com o prefeito Claudemir Bongiorno na prefeitura de Cianorte, na última segunda-feira (8), o ministro visitou a redação do jornal Folha de Cianorte onde deu uma entrevista exclusiva. “Queremos seguir barateando os equipamentos”, comentou Paulo Bernardo sobre o aumento de conexões de internet no Brasil e os aparelhos para acessar a tecnologia, como os smartphones. Ele também se mostrou a favor da reforma política em relação à imagem ruim da classe política atualmente.
Sempre conectado com a internet recebendo informações ou lendo notícias pelo celular, o ministro também falou na entrevista sobre a expectativa da campanha no interior, novidades sobre internet no Brasil, problemas com as companhias telefônicas, o impacto dos escândalos envolvendo petistas, dos médicos cubanos, de seu futuro político, entre outros assuntos.
ENTREVISTA
FOLHA DE CIANORTE – Como está a mobilização do partido na campanha no interior do Paraná?
PAULO BERNARDO – Tirei férias para ajudar na campanha. Pelo que estamos vendo, há um terreno muito bom para trabalhar. As pessoas são receptivas. Por outro lado, estou sentindo que a campanha está muito fria, de maneira geral. Muita gente dizendo que não animou ainda. Tem muita gente sem candidato. E as lideranças ainda estão um pouco “tranquilas”. Nós estamos procurando motivar, ainda tem um mês para campanha. Vamos apresentar argumentos porque o cidadão não se deixa levar facilmente. As pessoas querem saber tim tim pot tim tim antes de decidir o voto. Mas, é importante a gente ter argumento e proposta para apresentar.
Como vocês receberam as pesquisas com a Gleisi Hoffmann em terceiro lugar nas pesquisas? Foi uma surpresa?
Estamos tranquilos. A questão da pesquisa dá um quadro naquele momento. Nós estamos tranquilos porque nos anos anteriores, invariavelmente, as pesquisas se equivocaram. Se pegar Curitiba, por exemplo, em 2012, todas as pesquisas, até a boca de urna, diziam que o Fruet estava fora e ele foi pro segundo turno e virou. Então, não podemos se prender por avaliação de pesquisa.
E qual o impacto das sentenças do Mensalão e o caso recente do André Vargas? Até que ponto isso pode ter alguma influencia agora?
Acho que tudo isso prejudica. Mas, o prejuízo maior não é pra uma ou outra candidatura. Na verdade, nós estamos com a imagem da política como um todo, dos políticos, tá muito prejudicada. Eu vi uma entrevista do presidente da Vale no jornal ele falando que uma parte dos políticos se nega a ver que a política está apodrecendo. É uma expressão extremamente pesada. Mas é isso… não pode ter uma situação onde junta alguns deputados, forma um partido, não tem nenhuma ideia por trás a não ser conseguir mais espaço, conseguir horário eleitoral para negociar com candidatos. Aí você vê o mesmo partido do Eduardo Campos em Pernambuco, com o PSDB no Paraná com o PT no Rio de Janeiro, …. Mas as pessoas não são bobas. Elas veem isso. Uma das coisas que temos é ter compromisso e fazer uma grande reforma política. Botar ordem nesse negócio.
Como é nas conversas entre as lideranças do partido, qual é a postura sobre esses fatos?
Evitar não tem jeito. Se perguntam você tem que responder. Se não fala, aí escrevem no jornal que não falou. Acho que temos que falar, tem que ter transparência, tranquilidade e mostrar que se tem gente que fez coisa errada, tem que ter providência. Como está acontecendo. A Polícia Federal e o Ministério Público estão atuando. E evidente que tem que ir para a Justiça, as pessoas tem que ter o direito de mostrar o que não é verdade, provar sua inocência. E se ficar comprovado que é culpado tem que assumir a sua responsabilidade.
O Brasil está entre os maiores usuários de internet. Como está a inclusão digital e novidades sobre isso?
Essa situação incomoda muito o governo. Nós tivemos um crescimento de 34 milhões de conexões no final de 2010 para 165 milhões. Já está multiplicando por cinco a quantidade de conexões. O problema é que não houve um acréscimo correspondente na infraestrutura. E a internet é igual uma rua. Se você põe um número muito grande de carros, vai engavetar, ficar lento. Se você põe muita informação de telefone ou de internet tramitando nas redes de comunicação, vai ficar lento. Como ficou lento. A nossa internet cresceu muito, mas ela está lenta. Precisamos de mais infraestrutura para melhorar. Estamos com planos para os próximos quatro anos termos redes de fibra ótica atingindo a maioria dos municípios do Brasil. E aumentar a velocidade da internet que hoje no Brasil está em torno de 5 megabits. Na media, porque em São Paulo é 40 e aí vai no interiorzão do Paraná ou Piauí e aí é meio mega. Então, queremos aumentar a media da internet no Brasil para 35 megabits. Isso é compatível com os países mais desenvolvidos hoje. E queremos seguir barateando equipamentos. Esse fenômeno do smartphone, nós tiramos os impostos. Hoje 75% dos telefones que vendem no Brasil são smartphones. Ou seja, tem conexão com a internet. E tem que seguir barateando.
A maior parte de hardware e software ainda é estrangeira. Como está o planejamento para valorizar essa produção nacional?
Quando tiramos o imposto do smartphone, demos obrigatoriedade de cada um vir com pelo menos 15 aplicativos nacionais. E agora, já temos em torno de 280 aplicativos que foram desenvolvidos no Brasil para aproveitar isso. Estamos fazendo no Ministério, um concurso com prêmios para quem desenvolver os 50 melhores aplicativos. Tem uma comissão para escolher isso. Para aplicativos e jogos educativos. Outra coisa, o imposto aqui é muito caro. Então, é muito fácil fazer um aplicativo aqui e registrar na Alemanha. Isso porque em cada R$ 1 ele ganha R$ 0,70. E aqui no Brasil ele fica só com R$ 0,40 e o imposto come o resto. Então, é evidente que precisamos mudar isso.
As companhias telefônicas são as campeãs de reclamações no Procon de Cianorte. Por que é tão difícil regulamentar e fiscalizar esse serviço?
Não é difícil. O problema é que não vai resolver. É como te falei: as vias de tráfego estão entupidas. Precisamos fazer infraestrutura. O que ninguém está falando é que entre esse ano e ano que vem, toda área rural terá telefonia e internet. Tem uma meta para cumprir nesse ano e até o final do ano que vem tem que estar 100% cumprido. Aqui no Paraná será tudo 3G. Deveremos ter uma cobertura muito maior e melhor nesse período de dois anos. Quando fizemos a licitação para o 4G colocamos isso como obrigação das empresas. E também vamos conectar à internet todas as escolas rurais que não tem hoje. Precisamos ter infraestrutura para melhorar. Só fiscalizar e multar, vamos arrebentar as empresas de multa e não vai resolver o problema se não tiver modernização.
Uma coisa que tem muito se falado e gerado polêmica é sobre os médicos cubanos do Mais Médicos. Em Cianorte só veio um médico, mas está funcionando bem. Como é essa avaliação entre as lideranças do PT?
O Ministério da Saúde fez uma pesquisa que mostra que 95% das pessoas aprovam o médico estrangeiro. Não achamos que tem que ter a vida inteira médico estrangeiro. Começamos oferecendo vagas para médicos brasileiros que quisessem ir para as regiões que não tinham médico. E não teve. O que queremos é formar médicos. O governo já começou a liberar escolas de medicina para algumas cidades onde havia demanda. Até 2017 devemos liberar 11 mil vagas em faculdades de medicina e 12 mil de residência. Tem pesquisas que mostram que se estudantes vão para uma cidade estudar medicina, uma parcela expressiva fica pela região. Só que formar médico vai quase dez anos. Tem que ter médico. Se não tiver brasileiro, tem que ter estrangeiro. As pessoas não podem ficar desassistidas.
O senhor já passou por dois ministérios, foi deputado federal e teve cargo na secretaria de Londrina. O que o senhor planeja pro seu futuro político?
Por enquanto, não tenho nada. Tenho que ficar até o fim do ano lá ajudando a presidenta. Ela até já falou isso que tem que fazer uma equipe renovada. Depois eu vou ver o que vou fazer. Ser ministro, ser político não pode ser uma profissão. Gosto muito de ficar lá, mas quando sair vou ter que procurar outra coisa para fazer. Por enquanto não tenho nenhum cargo em mente.
Texto e fotos: Andye Iore
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