Ele começa a trabalhar no novo cargo no dia 10 de outubro. Mas já sabe que terá muito trabalho e alguns desafios para encarar. O novo reitor da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Mauro Luciano Baesso (foto), 54 anos, foi eleito com 4.971 votos, quase o dobro de votos da chapa adversária. A base dos votos foi a classe estudantil, sendo quase o triplo que conseguiram os adversários. O que mostra um grande conhecimento dos problemas que a universidade enfrenta e uma aposta numa nova forma de gestão. O vice-reitor é Júlio Damasceno.
O jornal Folha de Cianorte entrevistou o novo reitor que se mostrou a par da situação do campus da UEM em Cianorte e revelou já ter ações planejadas para os cursos cianortenses. Mauro Baesso quer resolver os problemas sobre os prédios inacabados e até abandonados que já servem de abrigo para traficantes no campus maringaense. Ele também se preocupa com a oferta de infraestrutura adequada aos estudantes, bem como a contratação efetiva de professores, prometendo diálogo com o governo estadual.
ENTREVISTA
FOLHA DE CIANORTE – Quais sãos os fatores que levaram a você ser eleito reitor da UEM?
MAURO BAESSO – Fomos uma candidatura de oposição. Tínhamos um sentimento mais generalizado de descontentamento com a gestão que vem conduzindo a UEM há quase 20 anos, é o mesmo grupo. A universidade passa por um momento delicado porque há problemas de infraestrutura que são generalizados tanto em Maringá, quanto nas cidades dos campi regionais, como em Cianorte. Porque nos últimos anos a UEM criou quase 30 cursos e esses cursos tinham como contrapartida do governo um aumento na infraestrutura, criação de salas de aula, laboratórios e isso não foi concluído. Então, temos muitos prédios iniciados e não concluídos, falta de sala de aula, as estruturas de sala de aula que tem estão muito ruins. Esse é o lado da infraestrutura que a universidade tem vivenciado e tem atrapalhado as atividades. O outro é a questão da graduação porque o foco da nossa campanha foi discutir com a comunidade ações de melhorias na graduação. A UEM é uma universidade que está aí entre as 20 melhores no ranking da Folha que foi divulgado essa semana. Então, é uma universidade de qualidade, mas precisa fazer ações na graduação. Porque temos mais de 50% dos alunos fazendo cursos noturnos. Em Cianorte é mais que isso. Esses alunos, muitas vezes, vem de outras cidades, chegam na hora da aula e vão embora sem ter muitas oportunidades para ter vivencia da universidade fora da sala de aula. E isso é importante para uma universidade pública para que o aluno possa ter uma interação maior com a universidade para ter uma atividade no curso que escolheu, atividades culturais, porque o objetivo é formar um cidadão. Ter uma profissão, mas tem formar um cidadão. O foco na graduação foi o que nós discutimos muito com os estudantes porque o nosso plano de trabalho foi construído com a participação dos estudantes, dos professores e agentes universitários. Então esse foi o aspecto da campanha de dar um enfoque maior para a graduação.
Vocês receberam quase o dobro de votos da outra chapa, com a maioria dos estudantes. Vocês buscaram esse apoio ou foi natural?
Quando estávamos discutindo o projeto, não havia os candidatos. O projeto foi discutido em torno de um ano e quando foi entre abril e maio, já tinha estudantes participando, ficou definido que nós seríamos os candidatos e tivemos o apoio dos alunos. E quando fomos para sala de aula vimos que o apoio era maciço, inclusive em Cianorte. Acho que a urna de Cianorte teve quase 90% de votação. O aluno entra na UEM e está esperando fazer um curso de qualidade, como é mesmo. Tem muitos cursos quando chega no primeiro ano o aluno não está preparado para as novas sistemáticas de um curso superior porque ele vem do Ensino Medio. E dentro de algumas disciplinas eles acabam tendo dificuldades, tiram notas baixas, reprovam e acabam abandonando o curso. Esse é o pior cenário que pode acontecer para uma universidade porque é uma vaga de um aluno que não vai se formar e a sociedade espera que no final do processo tenha o profissional porque ela que paga os custos. E também pro aluno é uma tragédia porque ele tem o sonho de fazer um curso superior, mudar a vida dele, da família dele e isso não acontece. Então, essa ação que vamos fazer é justamente para o primeiro e segundo anos dar apoio aos alunos fora dos horários de aula em algumas disciplinas para que eles tenham uma formação melhor e minimizar a evasão.
O campus da UEM em Maringá está com obras inacabadas, depredação, instalações abandonadas… você tem noção disso, conhece esse problema?
Claro! Muitos prédios. Foram os prédios que eram a contrapartida para a criação dos cursos novos. Tanto em Maringá como outras cidades. Em Cianorte, tem o problema da maquetaria do curso de Design. É uma promessa de anos e ainda não foi liberado recurso. A energia elétrica do campus de Cianorte não é suficiente e precisa aumentar a carga na entrada e dentro da universidade. Essa situação dos prédios é uma situação de contrapartida que está parada. Vamos conversar com o governo do estado para resolver isso e a universidade voltar ao seu funcionamento normal. Outro aspecto é a falta de pessoal. A universidade cresceu, aumentou cursos, mas o número de agentes universitários diminuiu. Temos a dificuldade que o número de docentes temporários é muito alto. Precisamos que o governo autorize os concursos para que esses professores e outros possam fazer e ter o contrato permanente. E aí o professor tem como planejar a vida dele, se dedicar não só ao ensino, mas a pesquisa, extensão, cultura e é isso que significa uma universidade pública, com uma dedicação integral.
O que você tem planejado para os campi regionais da UEM?
Primeiro que os campi são UEM. Então, o tratamento tem que ser igual. Tem dificuldades das mais básicas como fazer compras porque são feitas pela sede, tem dificuldades de construções. Por exemplo, em Cianorte tem que ampliar a biblioteca, precisa da construção de um prédio. Falta programa de apoio para os cursos de graduação, cursos de inglês porque nós queremos que os alunos façam intercambio internacional e na hora deles se candidatarem para esses cursos como o Universidade Sem Fronteiras, eles precisam ter inglês. É tratar os campi regionais da mesma forma que o campus sede. Há reclamações que os campi não tem autonomia administrativa. Vamos levar ao Conselho Universitário que os campi tenham um assento no Conselho de Administração. Na hora que discute o orçamento da universidade, que tenha um representante dos campi e isso facilita todo o processo administrativo. Outra coisa é o sistema de informação da universidade que está defasado, não está integrado e isso também dificulta o gerenciamento dos campi. Também dar oportunidade a eles de criarem os programas de pós graduação, consolidar, Por exemplo, Cianorte é a 24ª economia do estado. Os cursos que tem são muito importantes para a região. Tem que ter as políticas para serem cursos de qualidade com professores contratados em regime de dedicação exclusiva e integral. É dar um apoio que eles merecem porque são UEM.
O curso de Moda na UEM em Cianorte tem uma grande relação com mercado com os alunos do primeiro ano já conseguindo emprego. Você conhece essa relação dos cursos regionais com as economias locais?
Sim, tenho todas as informações. Durante a campanha estive em Cianorte e tenho a lista de todas as necessidades dos cursos e o planejamento a longo prazo, como um prédio novo que já está previsto. Sei que os alunos não tem um restaurante para fazer a alimentação. São problemas que tem que ser resolvidos. Reconheço a importância que o curso de Moda tem para a cidade na atividade econômica e formação. E é importante que ao contratar os professores de forma efetiva, a partir daí começa a planejar um programa de mestrado. Isso vai beneficiar ainda mais a cidade e sua atividade econômica.
Qual será sua primeira ação como reitor da UEM?
Vamos saber mais sobre essas obras que estão paradas e das que estão em discussão dos recursos para começar. Como é o caso de Cianorte. Dos laboratórios e equipamentos porque os cursos de graduação não podem esperar. Tem que ter os laboratórios pros alunos fazerem as atividades. A maqueteria em Cianorte é um desafio. O governo prometeu o recurso e nós vamos atrás desse recurso imediatamente para resolver essa demanda que vem lá de 2010.
E como será sua postura na relação com o governo estadual sobre a UEM?
Uma situação é no cenário como está hoje que é a Seti [Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ] que libera o orçamento anual da universidade. Tem a questão dos salários e os recursos de manutenção. O que acontece em função do crescimento da universidade, o recurso de manutenção não é suficiente para o dia a dia, como iluminação da sala de aula, pincel e giz para o professor, essas coisas básicas. Nesse aspecto, vamos procurar dialogar com o governo e sociedade. Por exemplo, em Cianorte vamos contar com a ajuda dos políticos regionais para sensibilizar o governo porque a universidade precisa funcionar bem para formar bem os alunos. Então, como a UEM criou 30 cursos, as outras universidades não criaram. E o orçamento da UEM cresceu na mesma proporção que das outras. Então, criou 30 cursos, mas não teve o financiamento do dia a dia mudado. Por isso quem tem essas dificuldades. O outro caminho é a autonomia financeira da universidade. É uma discussão que se arrasta por muitos anos e não é só na UEM. Tem uma comissão em andamento e vamos elaborar um projeto para discutirmos com o governo e levar para a Assembleia Legislativa, para tirar uma proposta para vincular o orçamento da universidade com a arrecadação do estado. Estabelece um valor de arrecadação e aí sim ela faz um planejamento conforme o tamanho que ela é, se vai criar cursos novos, dentro de um pano para não correr risco de não ser sustentável. Porque a universidade tem que ter sustentabilidade.
PERFIL
MAURO LUCIANO BAESSO
O novo reitor da UEM nasceu em Adamantina (SP) em 23 de novembro de 1959. A família mudou para a região de Paranacity quando ele tinha 2 anos e depois para Maringá quando ele tinha 15 anos. Ele se formou em Física na UEM em 1984, fez mestrado e doutorado na Unicamp, e começou como professor na UEM em 1990. Entre 1992 e 1994 ele fez pós-doutorado em Manchester, na Inglaterra, em Ótica Aplicada a Biologia.
Texto: Andye Iore / Foto: ASC/UEM
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