Cianorte ganhou na prática um reforço na segurança. A 5ª Companhia Independente de Polícia Militar já opera na cidade com a atuação de um major, um capitão e dois tenentes. Em agosto chegam 56 policiais e mais viaturas e equipamentos em breve. Até lá, a estrutura física da Companhia será reformada e ampliada. Enquanto isso, a relação com a imprensa foi melhorada e os criminosos já estão sofrendo com uma ação mais intensa e mais presença da polícia nas ruas. O resultado é divulgado diariamente. “Se for analisar o perfil de Cianorte, é uma cidade tranquila”, diz em entrevista ao jornal Folha de Cianorte, o major José da Silva Neto (foto), 45 anos, acostumado com trabalho “mais pesado” no 4º Batalhão da PM, em Maringá. Cidade cinco vezes maior que Cianorte e com maiores índices criminais. A experiência dá know how para mudar as iniciativas e conseguir mais resultados.
Uma das ferramentas é o Registro e Controle de Ocorrência Policial para Suporte a Tomada de Decisão (Recop). O sistema digital de informações foi implantado no 4º BPM em Maringá e depois foi para todo o Paraná, sendo que o major Silva Neto trabalha com ele há mais de dez anos. Ele consegue fazer relatórios e um mapeamento da criminalidade por regiões, horários e ocorrências. Assim coloca o policiamento agindo diretamente nos pontos e contra os bandidos.
A 5ª Cia Independente da PM atua nas cidades de Cianorte, Jussara, Terra Boa, Indianópolis, São Tomé e São Manoel do Paraná, cobrindo uma população de aproximadamente 115 mil pessoas.
ENTREVISTA
FOLHA DE CIANORTE – Quais são os seus desafios como major da 5ª Cia Independente da PM em Cianorte?
MAJOR SILVA NETO – O maior desafio será estruturar a parte administrativa num primeiro momento. Depois estruturar a parte de construções para atender a população e os policiais que precisam de uma estrutura maior. Isso também pelos policiais que estão para vir para Cianorte entre agosto e setembro. Esses são os desafios de imediato. E também baixar os índices de ocorrências. Índices de furtos e roubos e tráfico de drogas que são as coisas mais visíveis em Cianorte. É buscar soluções juntamente com a comunidade e autoridades locais. Procurar resolver os problemas com a melhoria que houve com a implantação da Companhia Independente que dá independência de decisões, mais policiais, mais viaturas, verbas, melhoria da estrutura… também a promessa do governo estadual para a implantação da Subdivisão de Polícia Civil que vai ajudar a gente também. São desafios de curto e longo prazo que temos.
Existe uma mudança de comportamento e postura com a chegada de um novo comandante?
A Polícia Militar tem uma formação única. Há diferenças pontuais. E temos que respeitar a característica da região, há pessoas com hábitos diferentes. Mas não comportamentos de desvio de conduta, que possam ser prejudiciais ou envolvimento em crimes. Isso nós coibimos com rigor. Mas se forem comportamentos positivos, nós mantemos. Não é mudar, fazer agir como o comandante pensa. Cada pessoa tem a sua visão de mundo e procuramos motivar para ter os comportamentos adequados. Num primeiro momento, achei as pessoas aqui muito motivadas, dedicadas. E isso nos leva a pensar que as coisas vão melhorar a cada dia.
Você veio de Maringá, que tem população cinco vezes maior que Cianorte. Geralmente, as pessoas querem ser promovidas para lugares maiores e não menores…
Acho que não é o tamanho da cidade e sim os desafios que nos motivam. Aceitei esse desafio que me deu uma motivação muito grande. Cianorte e Maringá são cidades quase irmãs, têm as mesmas características urbanas, as árvores são iguais. Há uma semelhança muito grande entre Cianorte e Maringá, que tem uma população maior. Mas Cianorte é uma cidade que demanda mais policiamento porque também recebe uma população flutuante. Acho que o desafio de uma nova unidade policial é o que me motivou vir para Cianorte.
Quais são os primeiros focos de ação do seu trabalho em Cianorte?
Precisamos ampliar mais o trabalho de prevenção, nas regiões onde acontecem os ilícitos. Também estruturar melhor nossa parte de inteligência policial para que haja diminuição no tráfico de drogas. Temos que aumentar o patrulhamento na cidade e combate incessante ao tráfico de drogas. Prender pessoas e diminuir essas ocorrências.
O que virá na prática para Cianorte com a Cia Independente?
A nossa expectativa é muito grande. Temos a Copa do Mundo. O Paraná sediará a Copa do Mundo e a Polícia Militar estará envolvida nisso. Temos que planejar as coisas conforme esses eventos. A nossa expectativa é que após a Copa do Mundo virá para cá viaturas, equipamentos e efetivo. Eu estou dando aula para os novos policiais em Maringá. Isso é real, eu consigo ver porque estou lá.
O que está certo sobre esses policiais?
Estamos acertando uma situação para que alguns policiais que estão no treinamento em Maringá venham alguns dias da semana antes fazer estágio em Cianorte até a formatura. Se tudo der certo, já haverá alguns policiais aqui para trabalhar. As viaturas serão definidas pelo governo federal, mas eu não sei quantas. Mas seremos atendidos sim. Também estamos conversando com a comunidade para fazermos a melhoria em prédios que já existem aqui na Companhia e construir novos prédios para abrigar os novos policiais que chegarão.
Qual o seu conceito de trabalhar em parceria com a Polícia Civil?
A minha afeição com a Polícia Civil é muito grande. Tanto que o delegado Nilson Rodrigues é meu amigo. Nós já trabalhamos em várias ações juntos em Maringá. O meu relacionamento com ele e os policiais civis é o melhor possível. É um trabalho integrado, em conjunto, em parceria. Nós precisamos do trabalho deles. O nosso trabalho é cíclico. Começa na Polícia Militar e termina na Polícia Civil, estamos dentro da mesma secretaria do governo estadual. São forças policiais que trabalham juntas.
Você já conversou com representantes da sociedade cianortense?
Conversei com o prefeito, com os vereadores, com o delegado, com juízes… estamos conhecendo as pessoas e fazendo as pessoas nos conhecerem para saber dos problemas da cidade como um todo. Vamos conversar com as associações de bairros também. Conversei assuntos gerais para saber as necessidades da cidade.
O que representa o crack na sociedade hoje?
Hoje o crack é uma epidemia. Extrapolou, saiu da esfera policial e passou a ser problema de saúde pública. O usuário fica totalmente dependente da droga. Manchou a nossa sociedade porque causa uma fissura, depressão, ansiedade. Faz a pessoa furtar, roubar. Todas as cidades do Brasil tem problema com crack. Isso preocupa porque o crack potencializa muitos as ocorrências policiais. O usuário fica agressivo, perde o controle.
E essa influencia esta bem evidente aqui em Cianorte?
Isso está em todas as cidades. De pequeno, médio e grande porte. Tem a facilidade do preço que a pessoa se torna viciada rapidamente. Não é algo simples de se combater. Não é só a polícia que vai resolver, tem que ter a saúde pública também. Tem que envolver os hospitais, os postos de saúde também.
Já aumentou o acesso a informações para a imprensa. Como você trabalha com Comunicação?
Tenho a visão que a imprensa é um órgão importante de divulgação das ações. Isso mostra a liberdade das pessoas. O Estado tem a obrigação de informar as pessoas. Nós não conseguirmos abranger tantas pessoas se não fosse a imprensa divulgar as ocorrências. A imprensa nos presta esse serviço. Por exemplo, no combate à dengue, a imprensa faz esse serviço de informar as pessoas sobre o que tem que fazer. A polícia passa as informações sobre as ocorrências e a imprensa divulga.
Como você trabalha com as estatísticas da criminalidade?
Nós temos ferramentas de geoprocessamento que tem uma central em Maringá. Tem estatísticas de área para o nosso acompanhamento. Conseguimos mapear o que acontece e traçar um perfil da cidade pelo tipo de crime, região. Eu trabalhava no setor de planejamento em Maringá e mexo com isso há uns dez anos. É algo que eu conheço bem. Fazemos um relatório e conseguimos fazer uma análise qualitativa e quantitativa. Já estou usando essa ferramenta aqui. Identificamos o tipo de ocorrência, identificamos as pessoas que estão fazendo certo tipo de ocorrências e em quais lugares. E aí vamos prender essas pessoas. Colocamos policiamento nessas situações e vamos minando essas situações. Trabalhamos na forma de resolver os problemas.
E o que você já identificou em Cianorte por esse mapeamento?
Se for analisar o perfil de Cianorte, dá pra dizer que é uma cidade tranquila. Se formos analisar e comparar com outras cidades pelo número de habitantes e o perfil. Cianorte tem mais problemas com furtos, roubos e tráfico de drogas. Casos de homicídios são poucos.
Depois desse foco inicial como será o cronograma da 5ª Cia Independente?
O nosso cronograma é estruturar toda a Companhia até a chegada dos novos policiais. E daí vamos dar mais excelência em nosso trabalho cobrindo uma área muito maior. E também ampliar o horário dos policiais nas ruas. Têm horários que têm mais policiais e outros que tem policiamento mínimo nas ruas. Com mais policiais vamos manter por mais tempo as equipes nas ruas e a qualidade do nosso trabalho vai melhorar bastante.
PERFIL
NOME: José da Silva Neto
NASCIMENTO: 17 de abril de 1968
CIDADE: Cruzeiro do Oeste
FORMAÇÃO: Direito; Especialização em “Gestão de pessoas”
FAMÍLIA: casado, pais de dois filhos
LAZER: ler livros
* publicado originalmente na versão impressa da Folha de Cianorte no começo de abril de 2014.
Texto e foto: Andye Iore
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