ENVELHEÇO… ENVELHEÇO

“Passarei a dobrar para cima a bainha da minha calça.” (T.S.Elliot).

O principal problema que trás o envelhecimento compulsório é saber lidar com as perdas que tivemos durante a vida. Não falo somente de pessoas que foram levadas pela morte, mas, das perdas pessoais que se não soubermos lidar com elas, elas irão incomodar até o fim de nossos dias. E é, justamente, a natureza destas perdas que causam o envelhecimento e determina a qualidade da velhice. Temos que aprender a lidar com nossas perdas antigas, diariamente, e não olhar cada mal estar, cada humilhação seja um ultraje que não se pode transpor… Jamais tratar a passagem dos anos como velhice, como inimigo e ser senhor da certeza da vinda de sofrimentos. Jamais! Aí me lembro da fala do escritor francês Paul Claudel que dizia “Oitenta anos: sem olhos, sem ouvidos, sem dentes, sem pernas e sem fôlego! E no final das contas, é espantoso como se pode passar bem sem eles.” O declínio físico está fora do controle, da nossa vontade, de nosso desejo.  Diante desta certeza, vemos nos tornar o “otimista saudável” que sempre se vê em plena forma e ao reconhecer suas deficiências consegue traçar objetivos para superá-las.

A velhice é um cheque-mate! Impossível evitá-la! Então há que se adaptar às novas circunstâncias da vida. Envelhecimento não significa que se está doente. Lógico que é preciso encarar o retardamento das funções físicas e estes danos são independentes de nossa vontade. Não encarar a velhice como uma decrepitude, vista como assexuada, inútil, sem força, fora do jogo; e envelhecer não é nenhuma tragédia. O recuo físico não deve ser um recuo espiritual. A convivência com si próprio é muito mais intensa e para ser feliz vamos deixar nossas perdas de lado. Elas não valem mais nada hoje. Errei? Já passou… Lamúrias fecham o espírito e trazer as perdas de volta não alegra a alma. As perdas só são necessárias para que o espírito se enrijeça e possa enfrentar as vicissitudes como fatos naturais.  Temos que nos conscientizar de que, o que realmente somos, deve ser separado das experiências que tivemos, sejam elas ruins ou boas. Viver o hoje intensamente, cada um é responsável pela própria jornada. Há que ser consciente do aspecto finito do corpo e toda a fragilidade das coisas humanas. O que importa é como sou hoje, como posso sustentar a minha coragem diante do desconhecido. Buscar a volta à vida como alternativa necessária, antes que a vida se vá. A jornada da alma é indubitavelmente, uma grande riqueza que dentro de nós permeia. E viver o envelhecimento sempre com uma grande sensação de liberdade trás segurança e paz. E como dizia James Hollis:

“Podemos até vir a compreender que não importa o que aconteça lá fora, desde que tenhamos uma ligação vital com nós mesmos. O recém-descoberto relacionamento com a vida interior mais do que equilibra as perdas exteriores. A riqueza da jornada da alma demonstra ser pelo menos tão gratificante quanto a  realização mundana.”

E de longe deixamos nossas perdas para sermos felizes hoje, tão somente hoje, porque amanhã será outro dia e ele ainda não chegou e o passado já se foi.

Izaura Varella

Advogada e Professora

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